terça-feira, 5 de julho de 2011

TEU LUGAR
Marlene Caminhoto Nassa


Em meio a um turbilhão
Que me sacode e arremessa
Presa nesse vendaval sem direção
Que de trégua sequer há promessa

Possuo só o calor do meu verso
E o final da dor tarda em chegar
Pois esse destino perverso
Teima sempre em me torturar

Atada a esse desamor eu faço
Rituais de minha descrucificação
Dessa falsa cruz do teu abraço
E sigo em triste procissão

E em meio a essa noite fria
A solidão pôs se a aninhar
Na minha cama agora vazia

E já tomou de vez teu lugar...
PEQUENAS DISTRAÇÕES
Marlene Caminhoto Nassa


Às vezes nos
deparamos
Com barreira em nosso pensamento
E mesmo que queiramos
Expressamos
mal nosso sentimento

São pequenos lapsos
Pequenas distrações
Que
desligam traços
Ou nos provam contradições

Foram essas
distrações
Que me mostraram
Quem tu eras bem

Tua boca dizia
uma coisa
Que não valia vintém
Mas era a tua atitude
Que te
exibia tão bem
MORRER SONETO
Marlene Caminhoto Nassa

Essa luz que rasga o céu de ponta a ponta
Carrega um poema dentro de si, já pronto
Dá ao poeta que os seus versos pesponta
A tonalidade dum brilho que o deixa tonto

O menestrel inspirado abre sua alma em cores
Ajuntando todos seus amores dispersos
Entrega a eles buquês e arranjo de flores
Feitos com a ternura dum soneto em versos

E a profusão de cores dessa flor verso
Derramada em luzes desse amor disperso
Eleva minha alma em sintonia ao universo

E esse poema em mil cores já envolto
Aos poucos ganha autonomia, e solto,
Vai morrer soneto, em algum mar revolto...
NA DOBRA DO COMPASSO
Marlene Caminhoto Nassa

O que faço
Nessa dobra
Do seu compasso?
Acelero o passo?
Não sei se posso...

Com esse compasso
Fico sem espaço
De me movimentar
Está difícil
Dançar

Compasso dobrado
Acelerado
Faz me
Cansar

Cansada e desanimada
Nessa música acelerada
Só consigo ficar parada

Vamos uma coisa
Combinar?

Se você acalmar
Esse seu compasso
Aí eu posso
Também dançar...
NO CORPO MEU
Marlene Caminhoto Nassa

Já fizestes poesia
No corpo meu
Escrita com mãos
E o beijo teu...
POESIA QUE FAZ CALAR
Marlene Caminhoto Nassa

Sou sobriedade e certeza
Teço o meu destino sem freio
Sinto me tão poesia, sem rodeio
Verso-me em crível destreza

Eu verso com quem me completa
O coração pulsa em câmera lenta
E quando a paz, então, se afugenta
A poesia se insere tão certa

E quando ela surge certeira, rabugenta,
Impondo se sem rodeio e sem freio
Fico amarrada, tolhida e sem meio

E só ela permanece soberana a reinar
Não admite qualquer entremeio
E para não fazer feio, ponho me a calar
UM VULTO UM OLHAR
Marlene Caminhoto Nassa

O que restou de lembrança
Foi a expressão de seu olhar
Que parecia não acreditar
Que eu queria tudo terminar

Abusou da minha paciência
Levou embora minha inocência
E me fez desacreditar
Para sempre em amar

Não tive outra opção
Ou continuaria a opressão
Ou dava logo um basta
Nisso tudo
E tratava de me levantar

Sua presença
Antes tão imponente
Reduziu-se num vulto
Escuro à luz do luar

Aí você ficou mudo
Não havia
O que contestar

Refletido naquele muro
Um vulto seu
No muro
E uma lágrima
No meu olhar