quarta-feira, 7 de setembro de 2011

COISAS DE MULHER
Marlene Caminhoto Nassa

A capacidade de gerar
Torna a mulher especial
Seu corpo e modelado
Para novo ser abrigar

Seus hormônios a conduzem
E a dotam de paciência
Exemplar
Ou de fúria
Espetacular

Só ela consegue em dezenas
Se multiplicar
Num único dia
Sem cessar

Vai da cozinheira faxineira
Motorista babá eleita
Enfermeira professora
Confidente companheira
Profissional perfeita

É amante à noite
Do marido
E mesmo insatisfeita
De manhã dá-lhe açoite
Do dia comprido
A lhe esperar

Passa da Cinderela
A gata borralheira
Num piscar

Sem direito sequer
De reclamar...
CHAMA DE TEU CORPO
Marlene Caminhoto Nassa

Quando encostas teu corpo no meu
Ele entra imediatamente
Em combustão

É como se uma labareda
Soltasse do corpo teu
E atingisse o combustível
Do meu...

Faísca de tensão
Desprende se do toque
De tua mão
Característica só
De quem ama
Chega dos olhos ao coração e
Numa fração
Incendeia
A nossa cama...
CASTELOS NA AREIA
Marlene Caminhoto Nassa

Não quis reconhecer o óbvio
E mais uma vez construí
Um castelo na areia
E quando veio
A maré cheia
Ele se foi
Com o mar

Mas sabem por que
É na areia que
Eu os construo então?

Por que é só de areia
Que é feito meu chão...
CARNAVAL
Marlene Caminhoto Nassa

É batuque na rua
É batuque no salão
E batuque no peito
Rimando no meu coração

Meus amores esfiapados
Transformei em serpentina
E espalhei pra todos os lados

Aqui só bebo alegria
Até me embriagar
Vamos entrar nessa folia
Sem ter hora pra parar

Passando de mão em mão
Conduziremos o trem da imaginação
Seremos o piloto do avião
Ou o comandante da embarcação

E sendo só imaginação
Sozinha nunca irei me sentir
No meio dessa multidão
Com as fantasias que poderei vestir

Sou a rainha sou o rei
E qualquer um outro serei
Dançando no Salão de festas
Dos corações de todos os Poetas!
CÂNTARO QUE SE PARTE

Marlene Caminhoto Nassa

Mesmo aos pedaços assim
O lindo cântaro de água
Espalhado em cacos pelo jardim
Parece alguma história de amor

Imagino que um dia ele foi lindo
Querido e desejado
Cheio de água ou de flor
Era sempre festejado
Enquanto servia a rigor

No chão, triste e quebrado
Sem serventia nem valor
Almeja não ser muito pisado
Para não sentir tanta dor

Aos pedaços, sem sua identidade
Ninguém hoje se lembra
O quanto ele deu de felicidade
Nem tem idéia de quanta sede aplacou

Não pode ser mais refeito
Assim esmagado e desfeito
Por mais que se sinta só
Não há jeito:
É como nós
Vai acabar virando pó...
BREVIDADE
Marlene Caminhoto Nassa

O instante
Não se conceitua
Pode durar uma brevidade
Pode durar uma eternidade

A libélula vive
Intensamente
Por um só dia
Mas é sua eternidade
Nesse dia

É breve o tempo
Quando estamos juntos
E morremos de saudade
Um instante longe
Parecendo eternidade

O efêmero
A brevidade
Tem que ter
Um contraponto
Mesmo assim

Enfim
Para poder se mensurar
Dependendo da intensidade
Do sentir
Podemos nunca acertar...

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

ALCANCE
Marlene Caminhoto Nassa

Uma parte de mim
Ainda sonha
Mas a outra parte
Não

Uma parte de mim
Ainda tem esperança
Mas a outra
Tem solidão

Uma parte dos meus olhos
Alcança o infinito
Mas a outra parte
Só alcança o chão

Uma parte dos desejos
Alcanço com as mãos
A outra parte
Não

Uma parte de mim é alegria
É futuro
Alcança a utopia
A outra parte
Não

Uma parte de mim
Não mais me alcança
E a outra parte
Também não!