sábado, 28 de julho de 2012

ORAÇÃO PROFANA
Marlene Caminhoto Nassa

Seus braços são fortes como galhos hirtos no ar,
Como uma doce cruz a me chamar!
E num louquíssimo abraço quero neles me crucificar!
Eu sou um navio errante,
E você um porto lindo de se ancorar!
Desejo misturar nossos fluidos e suores,
Nossas fantasias mais secretas, sem temores.

Na nossa pele, no nosso olhar e no nosso modo de amar
Levaremos para sempre a nossa presença,
Como uma sombra a pairar nessa descrença
De que um dia juntos iremos ficar
Pouco importa... Nada irá mudar...
Quebremos regras... Convenção...
Sejamos ousados, abusados!
Será nosso caminho? Nossa solução?
Nossa tábua de salvação?
Ou de nossa completa perdição?
Na cruz dos nossos próprios braços
Templo profano e proibido desses laços
Ate me me agora nos seus abraços,
Altar meu, altar seu, altar ateu
Crucificados e devassos nessa insana devoção
Nossos corpos, oferta sua e ofertório meu,
Carne que se sacraliza nesta profana oração!

MAR DO AMOR
Marlene Caminhoto Nassa

Foi tudo de bom
Navegar em seu mar pelo mundo
Quando havia tempo de calmaria
Nossas velas você recolhia
E lançava a âncora bem fundo

Ancorados em mar alto
Nada podia nos atrapalhar
Sentindo a brisa macia
No nosso corpo a tocar

Balançando nas suas águas
Às vezes conseguia até mergulhar
Catava as estrelas marinhas
E você me dava as do luar

Comíamos as estrelas da água
E com as do céu
Alimentávamos nosso sonhar

Mas o tempo de calmaria
Começou cedo a mudar
Soltamos as velas
Mas no meio da tempestade
Era impossível navegar

Nossa caravela água pôs se a fazer
E o mar do amor
Antes tão calmo e sereno
Ameaçava a nos arrastar
Em suas águas revoltas

E com todas as velas soltas
Ficamos perdidos nesse mar

Náufragos nesta praia deserta
Seremos presa certa
Pode crer
A não ser que desses destroços
Outra embarcação possamos fazer..
OUTROS OLHARES
Marlene Caminhoto Nassa
Olhes-me com olhos do teu coração
Entendas-me sem nada falar
Use a compreensão de poeta
Tateando por meus sentimentos
Lendo no braile dos dedos e da emoção
Os por quês desta minha solidão
Explores-me nesse teu ato
Minucioso perfeito e exato
Com teus dedos e teu desejo de fato
Enviando do coração ao corpo meu
As provas inequívocas do desejo teu
E encontrarás escondida nos espaços,
Camuflada entre outros  traços meus
A menina que  se expõe
 Frágil e nua
aos olhos teus...

domingo, 22 de julho de 2012

poesia INSTRUMENTO TEU

INSTRUMENTO TEU
Marlene Caminhoto Nassa

Com a língua quente na minha gruta
A lamber o contorno dos lábios meus
Teus dedos travam uma delicada luta

Ouve se de repente, num instante,
Em forma de espasmo e de gemido meu
Um concerto doce e alucinante

Tiras notas dissonantes com tua batuta
Quando fazes do meu corpo o instrumento teu!
SAL E MEL
Marlene Caminhoto Nassa

A delícia de dialogar com um poeta
É que só ele consegue explorar uma gruta
Esculpindo poemas de forma tão quieta
Mas criando arte até da palavra bruta
Enquanto escreve uma poesia louca

Exploda, pois, estrofes de suas águas represadas
E inunda de mel e de seu sal a minha boca!

sexta-feira, 20 de julho de 2012

MEU NORTE  (II)
Marlene Caminhoto Nassa
Vago qual pássaro mortalmente ferido
No mar da vida sobre a onda forte...
Vaga a onda e sem encontrar vaga,
Tal e qual o meu coração dolorido
Arrebenta na rocha que lhe faz barreira
Sou pássaro ferido e em cegueira
Que vagando eu no que divago da chaga
Aberta no meu peito e que me draga
Dilacerada nas adagas disparadas sem sorte
Feliz e cega só encontro a morte
Imaginando, tola, encontrar meu norte...

poesia SABOR DO VINHO

CONTO- O TELEFONE PÚBLICO (sensual, erótico)

O TELEFONE PÚBLICO   (CONTO ERÓTICO POLICIAL)

Todos os dias ela tomava aquele mesmo coletivo, no mesmo horário, no mesmo ponto, na periferia da capital, próximo da sua casa e o encontrava quase sempre vazio. Saia muito cedo e voltava já de noite. Trabalhava em uma repartição pública, solteirona, prestes a se aposentar. Morava sozinha, sem filhos, sem parentes próximos, sem amigos... Vida medíocre, sem distrações, só um rádio e uma televisão antiga, em que apareciam mais chuviscos do que imagem. A casa humilde era propriedade dela, foi feita, aos poucos, com o magro salário de faxineira na repartição pública.
Ergueu altos muros ao redor da casa e de si. Não havia vida, nem plantas e nem bichos. Magra, comia pouco, estocava não perecíveis para não precisar sair muito às compras. Um tanto desnutrida, angulosa; curvas, se as tivesse, ocultava sob roupas maiores que seu número. Não se sabe que tivera algum namorado, algum amor... Certamente não, ninguém nunca viu.
Um telefone público foi instalado, há pouco tempo, perto do seu ponto de ônibus, que tocou no momento em que ela desceu do coletivo naquela noite. Ficou tentada a atender, mas não se atreveu e foi embora para casa.
Na noite seguinte a mesma coisa, toca o telefone sempre no momento exato em que ela desce do coletivo... Não atende. A cena se repete por mais quatro, cinco dias... Algo começa a despertar nela... Uma curiosidade, um espanto, uma ansiedade...
Decide atender se tocar de novo na noite seguinte, raciocina.
Desce no ponto, olha para o aparelho ao lado e espera o já conhecido toque... Mas não há sinal. Senta se sob a pequena marquise que cobre o banco e espera uns longos minutos... Já está muito escuro e frio... E o telefone não toca. Levanta se um tanto frustrada e volta para casa, mais curiosa e espantada... Ouve suas histórias de suspense no rádio enquanto toma uma sopa. Essa noite precisa de mais coberta e não consegue dormir bem. Vai trabalhar mais cansada na manhã do outro dia.
Nem bem coloca os pés no chão ao saltar do coletivo, na noite seguinte e ouve tocar o telefone. Corre afobada e atende meio nervosa, insegura: ___Alô! Alô!
__ Finalmente você atendeu... Voz de homem do outro lado da linha, macia, calorosa, grave, com doçura, com um toque de sensualidade e vibração que lhe atinge o centro do peito, de imediato.
__ Quem é você? Com quem quer falar? Não há ninguém aqui, é um telefone público, um orelhão... Só estou eu aqui...
___Eu sei... É com você mesmo, você, que acabou de descer do ônibus... É com você...
___Comigo? Quem é você? O que quer de mim? Como falar comigo, moço, nem me conhece? Sério! Com quem quer falar?  
__ Quero falar com você! Quero você, na realidade... É... É você mesmo! Quero comer você! Quero fazer você sentir o que nunca sentiu na vida! Quero minhas mãos macias e quentes em seu peito, minha boca na sua boca, meu pau te arrebentando e revelando a mulher que você tanto esconde...
___ Vou desligar seu tarado! Como ousa falar assim comigo? Sou séria, viu? Vou desligar! Está louco!
___ Espera, por favor! Você não vai desligar... Não vai, não... Sei que não vai... Você quer também... Está curiosa... Só me escuta, não vou lhe fazer mal... Não desliga...
___ Vou sim, abusado!  Está enganado a meu respeito, não sou dessas... Já estou desligando! Ou chamo o 190 daqui! Vou chamar a policia!
___ Não vai fazer isso... Eu só quero lhe fazer o bem... Eu desejo você... E desejar alguém não põe ninguém em cana... Só me deixe dizer tudo o que quero fazer com você... Você é uma tesão, uma brasa adormecida... Eu te conheço bem... A hora que você começar, enlouquece... Começo abrindo sua blusa, desabotoando o sutiã vermelho com o debrum de rendinha cor de rosa, esse, que está usando hoje e chupo o bico de seu seio... E depois...
Ela bate o telefone em pânico e estarrecida, não o deixando falar mais nada. Olha desesperada para os lados e confirma não haver ninguém. Põe a mão no peito, abrindo um botão e confirmando que seu sutiã era vermelho e tinha a rendinha cor de rosa debruando... O único vermelho que tinha, comprado na oferta. Como pode ele saber? De que modo?
Corre, aos tropeços, para casa, que é relativamente perto, abre, tremendo os dedos, o cadeado do portão alto, entra em casa, acendendo todas as luzes, mas a voz de veludo ressoa nos seus ouvidos como um canto de sereia...
Tentou relembrar sobre quem estava no ônibus, mas nunca olhava para os lados, sempre lia algo... Quem seria ele? Da repartição? Mal olhava para os lados...
Quando o telefone tocou naquela noite, assim que desceu, ela logo atendeu e foi dizendo:
___ Para de me torturar! Para de me ligar! Minha vida estava tranquila, estou nervosa, não sei quem é você e o que quer de mim, não sou rica, não sou bonita, não sou jovem... Não tenho dinheiro e nada para lhe oferecer, nunca sai com nenhum homem, nem experiência ou safadeza posso lhe dar se é isso que busca!
___É exatamente assim que eu quero! Inexperiente, virgem... Gostosa...
___ Chega! Não fale assim comigo! Não sou dessas mulheres! Quem é você? Como sabe de mim, da minha vida? Trabalha na repartição? Anda me espiando? Viaja no mesmo ônibus? De onde me conhece? Você é tarado! Desiquilibrado! Estou com medo! Deixe-me em paz, pelo amor de Deus!
___ Calma... Não seja boba. Quero ver você gozar... Só isso... Quero que você sinta prazer...
__Tarado! Não fale assim comigo, vou desligar! Vou desligar, tarado!
__ Espere eu terminar, depois desliga... Abre sua caixa de correio e pegue o que está lá. Depois vai deitar e fique sem calcinha, pegue o brinquedo da caixinha e aperte o botão vermelho na ponta mais grossa dele; não se assuste por que ele vai vibrar na sua mão... Põe ele em cima dos seus pelinhos, no meio das suas pernas, você vai saber o lugar certo. Amanhã a gente conversa, vai! Há um bilhete que só deve ser lido três depois. Como se fosse um robô ela apressa o passo, abre o cadeado do portão, fecha-o com tranca e com outra chavinha abre, ansiosa, a caixinha do correio. Seu coração quase salta pela boca quando vê o pacote lá! E o envelope lacrado com o bilhete...
Toma banho, veste uma camisola, leva o pacote ao quarto e se deita sem a calcinha. Nunca vira nada igual, uma peça cilíndrica de silicone, com um botão vermelho numa das pontas, maior do que a palma da mão. Não consegue desobedecer às ordens dadas pelo homem da voz macia. Toca seus seios, que já estavam rijos, aperta o botão vermelho da peça cilíndrica, que começa a vibrar intensamente. Com uma das mãos alisa os seios e com a outra leva o aparelho até o meio de suas pernas. O que ela sentiu a seguir foi demais para sua vida de recato e negação de qualquer tipo de prazer que vivera até então. Os espasmos foram tão violentos que chacoalharam a cama e ela soube imediatamente que jamais seria a mesma mulher, nascia ali outra pessoa...
Perdeu a conta dos orgasmos obtidos e a noção do tempo. Adormecia, acordava e retomava. Não foi trabalhar. Comia qualquer coisa e voltava para a cama e para seus prazeres... Explorou novas posições, introduziu a peça, sangrou, mas obteve outros prazeres e não se cansava, queria sempre mais...
Era curto o bilhete: “Viu como eu estava certo? Você conheceu o céu e gostou né, safada? Telefonei no seu trabalho e falei que você viajou e deve demorar mais de uma semana. Pegue outro presente na caixa de correio. Queime muito bem os bilhetes, os embrulhos, jogue as cinzas na privada. Deixe o portão e a porta destrancados hoje à noite. Vai gozar como nunca.”
A polícia não encontrou nenhum vestígio de arrombamento, nenhum sinal de sêmen, só o vibrador introduzido, ligado, mas com a pilha gasta. O corpo estava aparentemente sem violência. Continuava algemada à cama e as chaves das algemas acessíveis, ao lado. Nada havia sido roubado nem mexido na casa. O telefonema partira de um telefone público do centro. O lenço que a enforcara e a causa da morte, a perícia concluiu que fora amarrado por ela, antes de colocar as algemas e que no momento dos orgasmos deve tê-la asfixiado, com os movimentos de espasmos violentos.
Um dos investigadores achou estranho que duas solteironas solitárias morressem nas mesmas condições, com vibradores, lenços e algemas, mas ninguém se interessou em unir os casos...

quinta-feira, 19 de julho de 2012

POESIA ENCONTRAR ESTRELAS

DESENHO MEU SOBRE O CINEMA BRASILEIRO

BRASÃO MEDIEVAL DA MINHA FAMÍLIA CAMINOTO

BRASÃO ORIGINAL DA MINHA FAMÍLIA, PRÉ MEDIEVAL

BRASÃO ATUAL DA MINHA FAMÍLIA

DESENHO MEU -FUNDAÇÃO DE SÃO PAULO

FOTO LINDA

PRESIDENTA OU PRESIDENTE?

  Uma belíssima aula de português.
  Foi elaborada para acabar de uma vez por todas com toda e qualquer dúvida se temos presidente ou Presidenta.
  A presidenta foi estudanta?
  Existe a palavra: PRESIDENTA?
  Que tal colocarmos um "BASTA" no assunto?
  No português existem os particípios activos como derivativos verbais. Por exemplo: o particípio activo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, o de cantar é cantante, o de existir é existente, o de mendicar é
  mendicante... Qual é o particípio activo do verbo ser? O particípio activo do verbo ser é ente. Aquele que é: o ente. Aquele que tem entidade..
  Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a ação que expressa um verbo, há que se adicionar à raiz verbal os sufixos ante, ente ou inte.
   Portanto, a pessoa que preside é PRESIDENTE, e não "presidenta", independentemente do sexo que tenha. Se diz capela ardente, e não capela "ardenta"; se diz estudante, e não "estudanta"; se diz adolescente, e não
  "adolescenta"; se diz paciente, e não "pacienta".
   Um bom exemplo do erro grosseiro seria:
  "A candidata a presidenta se comporta como uma adolescenta pouco pacienta que imagina ter virado eleganta para tentar ser nomeada representanta.
  Esperamos vê-la algum dia sorridenta numa capela ardenta, pois esta dirigenta política, dentre tantas outras suas atitudes barbarizentas, não tem o direito de violentar o pobre português, só para ficar contenta".

quarta-feira, 18 de julho de 2012

O TELEFONE PÚBLICO   (CONTO ERÓTICO POLICIAL)

Todos os dias ela tomava aquele mesmo coletivo, no mesmo horário, no mesmo ponto, na periferia da capital, próximo da sua casa e o encontrava quase sempre vazio. Saia muito cedo e voltava já de noite. Trabalhava em uma repartição pública, solteirona, prestes a se aposentar. Morava sozinha, sem filhos, sem parentes próximos, sem amigos... Vida medíocre, sem distrações, só um rádio e uma televisão antiga, em que apareciam mais chuviscos do que imagem. A casa humilde era propriedade dela, foi feita, aos poucos, com o magro salário de faxineira na repartição pública.
Ergueu altos muros ao redor da casa e de si. Não havia vida, nem plantas e nem bichos. Magra, comia pouco, estocava não perecíveis para não precisar sair muito às compras. Um tanto desnutrida, angulosa; curvas, se as tivesse, ocultava sob roupas maiores que seu número. Não se sabe que tivera algum namorado, algum amor... Certamente não, ninguém nunca viu.
Um telefone público foi instalado, há pouco tempo, perto do seu ponto de ônibus, que tocou no momento em que ela desceu do coletivo naquela noite. Ficou tentada a atender, mas não se atreveu e foi embora para casa.
Na noite seguinte a mesma coisa, toca o telefone sempre no momento exato em que ela desce do coletivo... Não atende. A cena se repete por mais quatro, cinco dias... Algo começa a despertar nela... Uma curiosidade, um espanto, uma ansiedade...
Decide atender se tocar de novo na noite seguinte, raciocina.
Desce no ponto, olha para o aparelho ao lado e espera o já conhecido toque... Mas não há sinal. Senta se sob a pequena marquise que cobre o banco e espera uns longos minutos... Já está muito escuro e frio... E o telefone não toca. Levanta se um tanto frustrada e volta para casa, mais curiosa e espantada... Ouve suas histórias de suspense no rádio enquanto toma uma sopa. Essa noite precisa de mais coberta e não consegue dormir bem. Vai trabalhar mais cansada na manhã do outro dia.
Nem bem coloca os pés no chão ao saltar do coletivo, na noite seguinte e ouve tocar o telefone. Corre afobada e atende meio nervosa, insegura: ___Alô! Alô!
__ Finalmente você atendeu... Voz de homem do outro lado da linha, macia, calorosa, grave, com doçura, com um toque de sensualidade e vibração que lhe atinge o centro do peito, de imediato.
__ Quem é você? Com quem quer falar? Não há ninguém aqui, é um telefone público, um orelhão... Só estou eu aqui...
___Eu sei... É com você mesmo, você, que acabou de descer do ônibus... É com você...
___Comigo? Quem é você? O que quer de mim? Como falar comigo, moço, nem me conhece? Sério! Com quem quer falar?  
__ Quero falar com você! Quero você, na realidade... É... É você mesmo! Quero comer você! Quero fazer você sentir o que nunca sentiu na vida! Quero minhas mãos macias e quentes em seu peito, minha boca na sua boca, meu pau te arrebentando e revelando a mulher que você tanto esconde...
___ Vou desligar seu tarado! Como ousa falar assim comigo? Sou séria, viu? Vou desligar! Está louco!
___ Espera, por favor! Você não vai desligar... Não vai, não... Sei que não vai... Você quer também... Está curiosa... Só me escuta, não vou lhe fazer mal... Não desliga...
___ Vou sim, abusado!  Está enganado a meu respeito, não sou dessas... Já estou desligando! Ou chamo o 190 daqui! Vou chamar a policia!
___ Não vai fazer isso... Eu só quero lhe fazer o bem... Eu desejo você... E desejar alguém não põe ninguém em cana... Só me deixe dizer tudo o que quero fazer com você... Você é uma tesão, uma brasa adormecida... Eu te conheço bem... A hora que você começar, enlouquece... Começo abrindo sua blusa, desabotoando o sutiã vermelho com o debrum de rendinha cor de rosa, esse, que está usando hoje e chupo o bico de seu seio... E depois...
Ela bate o telefone em pânico e estarrecida, não o deixando falar mais nada. Olha desesperada para os lados e confirma não haver ninguém. Põe a mão no peito, abrindo um botão e confirmando que seu sutiã era vermelho e tinha a rendinha cor de rosa debruando... O único vermelho que tinha, comprado na oferta. Como pode ele saber? De que modo?
Corre, aos tropeços, para casa, que é relativamente perto, abre, tremendo os dedos, o cadeado do portão alto, entra em casa, acendendo todas as luzes, mas a voz de veludo ressoa nos seus ouvidos como um canto de sereia...
Tentou relembrar sobre quem estava no ônibus, mas nunca olhava para os lados, sempre lia algo... Quem seria ele? Da repartição? Mal olhava para os lados...
Quando o telefone tocou naquela noite, assim que desceu, ela logo atendeu e foi dizendo:
___ Para de me torturar! Para de me ligar! Minha vida estava tranquila, estou nervosa, não sei quem é você e o que quer de mim, não sou rica, não sou bonita, não sou jovem... Não tenho dinheiro e nada para lhe oferecer, nunca sai com nenhum homem, nem experiência ou safadeza posso lhe dar se é isso que busca!
___É exatamente assim que eu quero! Inexperiente, virgem... Gostosa...
___ Chega! Não fale assim comigo! Não sou dessas mulheres! Quem é você? Como sabe de mim, da minha vida? Trabalha na repartição? Anda me espiando? Viaja no mesmo ônibus? De onde me conhece? Você é tarado! Desiquilibrado! Estou com medo! Deixe-me em paz, pelo amor de Deus!
___ Calma... Não seja boba. Quero ver você gozar... Só isso... Quero que você sinta prazer...
__Tarado! Não fale assim comigo, vou desligar! Vou desligar, tarado!
__ Espere eu terminar, depois desliga... Abre sua caixa de correio e pegue o que está lá. Depois vai deitar e fique sem calcinha, pegue o brinquedo da caixinha e aperte o botão vermelho na ponta mais grossa dele; não se assuste por que ele vai vibrar na sua mão... Põe ele em cima dos seus pelinhos, no meio das suas pernas, você vai saber o lugar certo. Amanhã a gente conversa, vai! Há um bilhete que só deve ser lido três depois. Como se fosse um robô ela apressa o passo, abre o cadeado do portão, fecha-o com tranca e com outra chavinha abre, ansiosa, a caixinha do correio. Seu coração quase salta pela boca quando vê o pacote lá! E o envelope lacrado com o bilhete...
Toma banho, veste uma camisola, leva o pacote ao quarto e se deita sem a calcinha. Nunca vira nada igual, uma peça cilíndrica de silicone, com um botão vermelho numa das pontas, maior do que a palma da mão. Não consegue desobedecer às ordens dadas pelo homem da voz macia. Toca seus seios, que já estavam rijos, aperta o botão vermelho da peça cilíndrica, que começa a vibrar intensamente. Com uma das mãos alisa os seios e com a outra leva o aparelho até o meio de suas pernas. O que ela sentiu a seguir foi demais para sua vida de recato e negação de qualquer tipo de prazer que vivera até então. Os espasmos foram tão violentos que chacoalharam a cama e ela soube imediatamente que jamais seria a mesma mulher, nascia ali outra pessoa...
Perdeu a conta dos orgasmos obtidos e a noção do tempo. Adormecia, acordava e retomava. Não foi trabalhar. Comia qualquer coisa e voltava para a cama e para seus prazeres... Explorou novas posições, introduziu a peça, sangrou, mas obteve outros prazeres e não se cansava, queria sempre mais...
Era curto o bilhete: “Viu como eu estava certo? Você conheceu o céu e gostou né, safada? Telefonei no seu trabalho e falei que você viajou e deve demorar mais de uma semana. Pegue outro presente na caixa de correio. Queime muito bem os bilhetes, os embrulhos, jogue as cinzas na privada. Deixe o portão e a porta destrancados hoje à noite. Vai gozar como nunca.”
A polícia não encontrou nenhum vestígio de arrombamento, nenhum sinal de sêmen, só o vibrador introduzido, ligado, mas com a pilha gasta. O corpo estava aparentemente sem violência. Continuava algemada à cama e as chaves das algemas acessíveis, ao lado. Nada havia sido roubado nem mexido na casa. O telefonema partira de um telefone público do centro. O lenço que a enforcara e a causa da morte, a perícia concluiu que fora amarrado por ela, antes de colocar as algemas e que no momento dos orgasmos deve tê-la asfixiado, com os movimentos de espasmos violentos.
Um dos investigadores achou estranho que duas solteironas solitárias morressem nas mesmas condições, com vibradores, lenços e algemas, mas ninguém se interessou em unir os casos...