quarta-feira, 27 de julho de 2011

FOSSA
Marlene Caminhoto Nassa

As pedras e os espinhos
Ao seguir por essa estrada bela
Dilaceram me aos pouquinhos
E vão me espalhando por ela

Meus pedaços vão ficando
Enquanto sigo caminhando
Espalhados pelo chão...
Minha voz rouca vai se tornando
E ninguém mais ouve, não.

Nessa estrada, é verdade,
Cada um com sua ocupação
Não tem tempo ou vontade
De me dar sua atenção

Sigo assim aos pedaços
Caindo em qualquer lugar
Tentando fazer laços
E com meus frágeis braços
Procurar até reter o luar...

Mas no fim do meu caminho
Sem ter mais nenhum pedacinho
Fico vazia e no escuro a chorar...
Lamentando e questionando
Se valeu a pena o meu caminhar...
DESEJOS
Marlene C Nassa

São tantos os desejos
Que eu poderia enumerar
Começando pelos sensuais
Até chegar aos espirituais

Desejar é também sonhar
È aguardar a realização
Daquilo que se põe a desejar

Desejo a precisão no ar
Do vôo das aves
O arrebatamento das ondas
No rochedo
O mergulho nos abissais do mar
Sem medo

Conhecer da alegria
O segredo
Desenhar nas nuvens
Com meu dedo

Resgatar a pureza
E a ingenuidade
Sem perder a verdade

Ter um farol e um porto
E viver à minha maneira

Possuir mundo
Sem fundo
Sem porteira
Amar sem barreira

sexta-feira, 8 de julho de 2011

CARNAVAL DA VIDA
Marlene Caminhoto Nassa

Eu não fui colombina
Nem você foi pierrot
Não existe a alegria
Mas foi só você quem mudou

Já brinquei no salão
Sozinha na multidão
Já chorei na cadência
Já rompi um cordão

Se eu não fui colombina
Nem você foi pierrot
Cadê meu coração?
Com quem é que ficou?

Se eu não fui colombina
E nem você pierrot
Por que hoje a tristeza
Em meu peito restou?

Se eu não fui colombina
E nem você pierrot
Do seu amor de fantasia
O que é que pra mim restou?

Só quarta feira
Só quarta feira de cinzas
Em minha alma ficou...
DE MÃOS VAZIAS
Marlene Caminhoto Nassa

Lá fora a chuva do verão alaga a cidade
E leva de roldão sonhos vidas ilusão
Aqui dentro do meu quarto, sem piedade,
De mãos vazias eu me sinto em prisão

Prisão na minha própria dúvida
Prisão na minha própria reflexão
Enclausurada nos desencantos da vida
Angustiada por não ver solução

Se a noite parece sonho pra alguém
Para mim não parece não
A inacreditável realidade também
Não nos oferece conforto ou perdão

A chuva que chora na vidraça, sem cessar
Pode parecer que de mim se compadece
Ilusão! Olhos de vidro não podem chorar
E mão vazia nada oferece...
MAR DO AMOR
Marlene Caminhoto Nassa

Foi tudo de bom
Navegar em seu mar pelo mundo
Quando havia tempo de calmaria
Nossas velas você recolhia
E lançava a âncora bem fundo

Ancorados em mar alto
Nada podia nos atrapalhar
Sentindo a brisa macia
No nosso corpo a tocar

Balançando nas suas águas
Às vezes conseguia até mergulhar
Catava as estrelas marinhas
E você me dava as do luar

Comíamos as estrelas da água
E com as do céu
Alimentávamos nosso sonhar

Mas o tempo de calmaria
Começou cedo a mudar
Soltamos as velas
Mas no meio da tempestade
Era impossível navegar

Nossa caravela água pôs se a fazer
E o mar do amor
Antes tão calmo e sereno
Ameaçava a nos arrastar
Em suas águas revoltas

E com todas as velas soltas
Ficamos perdidos nesse mar

Náufragos nesta praia deserta
Seremos presa certa
Pode crer
A não ser que desses destroços
Outra embarcação possamos fazer...
INSACIÁVEL
Marlene Caminhoto Nassa

Não tem fim a sede
Que tenho de te
Amar
É como a água
Na areia do mar
Que vai e volta
Sem cessar

Quero fartar-me
Dos teus beijos
Dos teus carinhos
Dos teus desejos
E de ficares dentro de mim

Eu te receberei
E te acolherei
Num prazer sem fim
Estarei sempre querendo
Que me possuas
Eternamente assim

Insaciável desejo
Insaciável tesão
Não me sacio sem teus beijos
Nem tampouco com minha mão...

terça-feira, 5 de julho de 2011

CÂNTARO QUE SE PARTE
Marlene Caminhoto Nassa

Mesmo aos pedaços assim
O lindo cântaro de água
Espalhado em cacos pelo jardim
Parece alguma história de amor

Imagino que um dia ele foi lindo
Querido e desejado
Cheio de água ou de flor
Era sempre festejado
Enquanto servia a rigor

No chão, triste e quebrado
Sem serventia nem valor
Almeja não ser muito pisado
Para não sentir tanta dor

Aos pedaços, sem sua identidade
Ninguém hoje se lembra
O quanto ele deu de felicidade
Nem tem idéia de quanta sede aplacou

Não pode ser mais refeito
Assim esmagado e desfeito
Por mais que se sinta só
Não há jeito:
É como nós
Vai acabar virando pó...



CANÇÃO PROIBIDA
Marlene Caminhoto Nassa

Como proibir uma canção?
Isso aconteceu no Brasil
Só nos tempos de repressão

Tristes histórias que temos
Para recordação
Lindas poesias músicas
Pensamento arte canção
Eram proibidos por arbítrio
Dos censores do regime de então

Fiz parte dessa luta
Pela volta da liberdade de expressão
Não se imagina país democrático
Embaixo de grilhão

Nossa palavra nasce livre
E da arte qualquer manifestação
Deve ser aceita sem senão

É só assim que vive de verdade
Em liberdade
Qualquer povo
Qualquer nação
CHUVISCO
Marlene Caminhoto Nassa

Não quero ser
Só um chuvisco
Em terra seca
Estéril
Desenganada

Essa chuva tem que ser
Densa pesada
Fácil de se perceber
Que encharque
Qualquer aridez

Promova
Fecundidades
Remova
Toda a estupidez
De amor
Que impede
De nascer
Flor

Mate do solo
A sede
Transmude
A sua cor

Não posso,
Se quero tudo
Molhado ver,
Simples chuvisco ser

Chuvinha
Que parece farinha
E que desce
Mansinha

Cansei de ser...
BOITATÁ
Marlene Caminhoto Nassa

Quero viver essa alegria
Participar dessa folia
E com voces duelar
Pular carneiro nas nuvens
E nos ventos rodopiar

Escutar na noite o lamento
De apaixonado sob o luar
Querendo o fim do tormento
E com sua amada reatar

Tecer num tear de estrelas
Redes para pescar o ar
Reter nos fios cintilantes
Todo brilho que amealhar

E com ele te fazer enfeite
Prender no teu dorso
E te deixar em deleite
Envolto nesse brilhar

E nas noites te ver
Pelos campos a voar
Iluminando qualquer clareira
Meu boitatá particular!
DE MÃOS DADAS
Marlene C.aminhoto Nassa

Minha paisagem é por inteiro!
Sem ovelhas nem pastores,
Mas com galinhas brancas no galinheiro,
O abacateiro...
Roupas coloridas no varal
O pé de amoras, o formigueiro...
Até o cheiro do quintal!

Tudo fica numa caixinha,
Bem ao lado da ladainha
Que minha mãe punha-se a rezar,
Lá no fundo da memória.

E quando eu quero recordar,
Abro, devagar, a caixinha,
E a menina que está lá dentro,
Vem correndo me buscar!
E nós saímos de mãos dadas,
Ela me ensina a temer nada,

E numa cúmplice parceria,
Ela me reconstrói a alegria,
Do pé descalço na enxurrada,
De olhar o arco íris
Logo depois da chuvarada!

E quando ela volta pra caixinha,
Que gracinha!
Bem velhinha!
Aí sou eu que começo a engatinhar!
DISFARCE
Marlene Caminhoto Nassa

Tu te suplantas
Nos disfarces
E nas mentiras
Que tentas
Aplicar em mim

Sabes que não sou idiota
Mas se comporta mesmo assim
Enganas a ti próprio
Não a mim

Lugar de palhaço
É no picadeiro
E de galo
É no poleiro

Estou muito cansada
De atitudes infantis
Cresça
Amadureça
Enfim

Quem sabe
Não haverá
Entre nós
Inevitável fim
É TARDE DEMAIS?
Marlene Caminhoto Nassa

Missão cumprida
Filhos criados
Encaminhados
Vontade
De recomeçar

Uma nova carreira
Uma nova vida
Um outro vivenciar
Sem nenhuma opressão

È até possível
Não ser compreendida
Sentir solidão

Ser agredida
Por expor
A ferida
Sem compaixão

Será que vale a pena
Sair de cena
Em plena atuação?

Não é
Tarde demais
Para sonhar
Para gostar de si
Querer se preservar?

Não é tarde demais
Para algum recomeço
Enfrentar o tropeço
Que o futuro poderá dar?

Não é tarde demais
Para se ter esperança
Sem viver de lembrança
Ruim de guardar?

Não é tarde demais
Para novamente
Amar?
EDREDOM
Marlene Caminhoto Nassa

Embaixo do edredom
Mãos em sintonia
Num mesmo tom
Esquentaram a noite fria
E entramos em ebulição

Com nosso corpo colado
O coração pulsando apressado
O pobre do edredom
Foi logo jogado de lado

Melhor do que qualquer
Cobertor
É ter uma relação
Com amor
CONSTELAÇÃO
Marlene Caminhoto Nassa
Lena Serena

Tudo o que mais quero agora
É que repouses tua boca em mim
Percorrendo meus caminhos assim

Que gota a gota pingue sem cessar
Teu sal e mel retemperando o desejo
E engula com teu beijo o meu pensar

Que te aposses de meus sonhos
E descubras meus mais ousados anseios
Explorando com tua boca os meus seios

Que sacies a tua e a minha fome
Pescando estrelas no céu da minha boca
E pouco a pouco tu me ponhas louca

Enquanto me possuis e gritas o meu nome
Vais dizendo que me ama
Trocando estrelas pela nossa boca

E uma constelação delas se derrama
Inteirinha em nossa cama...
AS DUAS LÍNGUAS
Marlene Caminhoto Nassa

Sua língua é sensual, com certeza,
Mas não se esqueça não
De sempre fazer a correção
Também da língua portuguesa

Dou o desconto pela empolgação
Pela intensidade da paixão
As duas línguas devem ser cuidadas com amor
Aquela que explora um corpo
E a outra que fala o que for...

A pessoa saborosa é aquela que sabe bem
Esgrimir a língua da boca
E a língua da pátria também...
COLAR DE PÉROLAS
Marlene Caminhoto Nassa

Tu, deitado ao meu lado,
A me olhar...

E eu, ajoelhada e nua,
Com pérolas,
Para te enfeitar...

Quero envolver teu sexo
Com pérolas de meu colar
Circular suavemente,
Fazendo cada conta ir roçando,
Tua carne rija e quente,

E essas pérolas, como uma serpente,
Qual toque sutil de um dente,
Comprimindo o suficiente
Para te fazer enlouquecer
De prazer
Enrodilhadas na coluna tua...

De testemunha
Somente a lua...
POEMA DE CARNE
Marlene Caminhoto Nassa

Nós dois somos poesias de carne
Quero, então, declamar em ti,
Todos os versos que souber

E com a força do teu abraço
E com o verbo que teu corpo dita
Sei que escreverás em mim
Também poesia bendita

Seremos versos livres de puro Prazer
Vivendo juntos esta poesia louca
Declamada com nosso corpo
Nossa boca
Ou o que for
A escrever
Esse poema de carne
E de amor
QUERIA TANTO!
Marlene Caminhoto Nassa


Queria tanto, neste momento,

Que seu corpo quente cobrisse o meu

E o aquecesse profundamente

Arrancasse desejos dormentes

Despertasse toda paixão que reprimo

E todo desejo saciado em solidão....

Queria tanto que seu toque suave

Substituísse as minhas mãos

E que minha noite triste

Tivesse fim

Que esse alguém realmente existe

E nunca saísse de perto de mim!
LIGAÇÕES
Marlene Caminhoto Nassa

Ligações do que?
De brisa?
Estendi os meus braços
E alcacei os teus abraços
De nuvem...

Nossos corpos se colaram
Mas o que restou
Por tu seres de nuvem
Foi só a chuva
De um pranto doloroso
Gritado em trovões

E uma fria tempestade
De granizos
Depois...
TEU LUGAR
Marlene Caminhoto Nassa


Em meio a um turbilhão
Que me sacode e arremessa
Presa nesse vendaval sem direção
Que de trégua sequer há promessa

Possuo só o calor do meu verso
E o final da dor tarda em chegar
Pois esse destino perverso
Teima sempre em me torturar

Atada a esse desamor eu faço
Rituais de minha descrucificação
Dessa falsa cruz do teu abraço
E sigo em triste procissão

E em meio a essa noite fria
A solidão pôs se a aninhar
Na minha cama agora vazia

E já tomou de vez teu lugar...
PEQUENAS DISTRAÇÕES
Marlene Caminhoto Nassa


Às vezes nos
deparamos
Com barreira em nosso pensamento
E mesmo que queiramos
Expressamos
mal nosso sentimento

São pequenos lapsos
Pequenas distrações
Que
desligam traços
Ou nos provam contradições

Foram essas
distrações
Que me mostraram
Quem tu eras bem

Tua boca dizia
uma coisa
Que não valia vintém
Mas era a tua atitude
Que te
exibia tão bem
MORRER SONETO
Marlene Caminhoto Nassa

Essa luz que rasga o céu de ponta a ponta
Carrega um poema dentro de si, já pronto
Dá ao poeta que os seus versos pesponta
A tonalidade dum brilho que o deixa tonto

O menestrel inspirado abre sua alma em cores
Ajuntando todos seus amores dispersos
Entrega a eles buquês e arranjo de flores
Feitos com a ternura dum soneto em versos

E a profusão de cores dessa flor verso
Derramada em luzes desse amor disperso
Eleva minha alma em sintonia ao universo

E esse poema em mil cores já envolto
Aos poucos ganha autonomia, e solto,
Vai morrer soneto, em algum mar revolto...
NA DOBRA DO COMPASSO
Marlene Caminhoto Nassa

O que faço
Nessa dobra
Do seu compasso?
Acelero o passo?
Não sei se posso...

Com esse compasso
Fico sem espaço
De me movimentar
Está difícil
Dançar

Compasso dobrado
Acelerado
Faz me
Cansar

Cansada e desanimada
Nessa música acelerada
Só consigo ficar parada

Vamos uma coisa
Combinar?

Se você acalmar
Esse seu compasso
Aí eu posso
Também dançar...
NO CORPO MEU
Marlene Caminhoto Nassa

Já fizestes poesia
No corpo meu
Escrita com mãos
E o beijo teu...
POESIA QUE FAZ CALAR
Marlene Caminhoto Nassa

Sou sobriedade e certeza
Teço o meu destino sem freio
Sinto me tão poesia, sem rodeio
Verso-me em crível destreza

Eu verso com quem me completa
O coração pulsa em câmera lenta
E quando a paz, então, se afugenta
A poesia se insere tão certa

E quando ela surge certeira, rabugenta,
Impondo se sem rodeio e sem freio
Fico amarrada, tolhida e sem meio

E só ela permanece soberana a reinar
Não admite qualquer entremeio
E para não fazer feio, ponho me a calar
UM VULTO UM OLHAR
Marlene Caminhoto Nassa

O que restou de lembrança
Foi a expressão de seu olhar
Que parecia não acreditar
Que eu queria tudo terminar

Abusou da minha paciência
Levou embora minha inocência
E me fez desacreditar
Para sempre em amar

Não tive outra opção
Ou continuaria a opressão
Ou dava logo um basta
Nisso tudo
E tratava de me levantar

Sua presença
Antes tão imponente
Reduziu-se num vulto
Escuro à luz do luar

Aí você ficou mudo
Não havia
O que contestar

Refletido naquele muro
Um vulto seu
No muro
E uma lágrima
No meu olhar
VARRENDO AS SOBRAS
Marlene Caminhoto Nassa

Quando estavas comigo
No nosso castelo encantado
Havia fartura e calor
E tu ias varrendo as sobras
E também as coisas de valor

Mas o tempo foi passando
E não fizestes manutenção
O encanamento estourou
A pintura se desbotou

A mobília antes tão linda
Feita toda na mão
Apodreceu no relento
Depois que o teto desabou

Jogado por qualquer lado
Hoje vives desabrigado
E como pedes esmola para comer
Não há mais sobras para varrer
VERSOS NOTURNOS
Marlene Caminhoto Nassa

Poderiam
Ser soturnos
Esses versos
Noturnos
Que te
Quero enviar

Recolhidos
De um canto
Da mente
Tristes
Um tanto

Mas quero
Entretanto
Que me sejam
O acalanto
Nesta noite
Sem luar

É tudo o que
Posso
Por hora
Te dar

Versos noturnos
Que te ponho
A mandar
São pedaços
De um sonho
Que eu ainda
Tento sonhar...
VIDA DUPLA
Marlene Caminhoto Nassa

Por que tentar o impossível
Por que sonhar
Se para ti sou mais uma
Na tua peça a somar?

Não suporto
Viver vida dupla
Onde não sou a protagonista

Coadjuvante de segunda
Artista de papel menor
Por favor não mais insista
Posso representar coisa melhor

Sempre fui estrela
De primeira grandeza
Nos palcos desta vida

Não consigo agora do nada
Essa vida dupla viver
Brilhar tanto na minha estrada
E no teu pobre palco morrer...
VIDA SEM ARTE

Marlene Caminhoto Nassa



A arte é o alimento vital

De todo artista

E de todo ser mortal



Os sons, o músico

Utiliza para compor

As cores só ganham vida

Nos quadros do pintor



O poeta na palavra esgrima

Seu amor e sua dor

Sua filosofia e sua rima

Acompanham a sua sina



Se viver é uma arte

Como ficar sem arte

E viver?



É preferível morrer...
VIDROS
Marlene Caminhoto Nassa

De areia de fogo e de ar
Elementos da natureza
Incandescentes
Tomam formas
Nas mãos do artesão

Belezas transparentes
Coloridas ou não
Ganham vida
Nessa transformação

Difícil imaginar
Que de simples areia
E de fogo intenso
Associados com o ar
Inflados pelo pulmão

O vidro é produzido
E há milênios
Está a nos encantar

A beleza da transparência
A fragilidade do material
Remete-nos a essência
De nossa alma imortal

Derretendo o elemento
De dentro de nós
Seja ele qual for
Com o calor da paixão
Fará a alquimia do amor
VOZES DO ÂMAGO
Marlene Caminhoto Nassa


Quando vejo uma injustiça
Do nada
Brota lá no fundo da alma
Uma ânsia de não ficar
Calada

É mais imperioso
Do que a vontade
Necessito trazer à tona
A verdade
Para que seja feita
A justiça perfeita

Não me importo
Com as afrontas
As ameaças
As trapaças
Que tentarão
Pregar em mim

Sei que causa
Uma comoção
Sem fim
Luta intensa
Duela em mim

A acomodação
O sossego
Para deixar a voz calada

Com a necessidade e
A hombridade
Que do âmago
Explode em vozes

Para não deixar
Morrer a verdade
Nem vencer a
Iniqüidade...
CARTAS MARCADAS
Marlene Caminhoto Nassa

Na escuridão do meu dia
Seguro fiapo de luz
Que possa
Nessa grande fossa
De alguma maneira
Me iluminar.

Só possuo a cruz do destino
Para nela me crucificar
E ela é tão fria
O quanto minha vida
É vazia

Nem mesmo o calor
Tão tênue desse verso
Fará algum reverso
Nessa minha solidão

Nas cartas marcadas
Desse destino tão perverso
Não haverá mais verso
Nosso jogo chegou ao fim

Eu sem você
E você sem mim...