terça-feira, 26 de fevereiro de 2013


PELO CHÃO

Marlene Caminhoto Nassa

 

Madrugada de blues e reflexão

Em que preciso espremer

As palavras com a mão

Apertá-las bem forte

Sem medo

De que escorram pelo dedo

Tentando encontrar seu porte

Seu tema e seu enredo

 

Maturando versos a fazer

Não pode haver distorção

Para formar a exatidão do dizer

 

E a estrofe sem solução

Não consegue ser exata

Fica imatura insegura e chata

 

E em meio a essa confusão

Equilibrando se como atleta

A poesia se estatela

Incompleta

Pelo chão

 

 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

HOMENAGEM A JULIO SARAIVA


JÚLIO SARAIVA
Marlene Caminhoto Nassa

Júlio foi poeta até pra morrer
Seu coração era tão intenso
Tão imenso tão denso
Que de repente parou de bater...

O submundo feio da cidade
Explodia em beleza nos seus versos
Poesia ácida azeda ou cheia de loucura
Outras encharcadas de ternura
Penduradas em abismos emocionais
Paradoxo de quem temia a altura

E em sua busca indireta da morte
No seu verso rude e cru
Retrato da vida que levava
Aonde se expunha a nu
Nas brincadeiras com a sorte
Pouco se lixando com a saúde
Duelava sempre com a morte
E ela lhe veio tão cedo
E justo ele que de voar tinha medo...
Hoje no céu deve estar
A procura de um enredo
Brigando para encontrar um bar...

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

QUARTA FEIRA DE CINZAS


QUARTA FEIRA DE CINZAS
Marlene Caminhoto Nassa

Hoje é dia de cinzas
Cinzas dos meus amores
Que trouxe consigo
As dores
E me retirou as cores
Deixando o cinza na alma
Vampirizando todo o carmim
Que havia em mim
Nesta triste encruzilhada
Com a fantasia rasgada
E sem placa de orientação
Só o cinza me rodeia
Neste cinzento alvorecer
E me envolve numa teia
Que me confunde o querer
Aos poucos em pó
Vou me tornando
E o vento espalha sem dó
Cumpro do destino a triste sina
Que em cinza nos transformou
E na quarta feira de cinzas
Na encruzilhada dessa esquina
Nossas cinzas espalhou...

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013


AMOR INDIGENTE
Marlene Caminhoto Nassa

O seu amor
indigente
deixou me
assim
vazia
pobre
silente
Germinou em mim
nostalgia
mas só nasceu
poesia
inocente...

domingo, 3 de fevereiro de 2013


DRAGA
Marlene Caminhoto

E tal qual uma draga a retirar-me do peito
Os entulhos as tristezas e o lixo que removeu
Fui desnudando emoções neste meu leito
E tua figura que se delineou me comoveu
Mas o que me atraía era uma meada
De onde meu corpo sedento se envolveu
Num fio que um passado contornava
E nele esse homem aos poucos habitava
Mas o passado encantado vivido
Substituiu o desencanto do presente
E a ausência do sentido e do alento
E nessa gravidez de desejos que não mente
Foram paridos a vontade e o intento
Que nos dariam o necessário alimento
E como homem então eu passei a te ver
E como tua mulher quis infinitamente ser
E como homem eu então passei a te querer
Pouco importando se há porta ou travessão
Pouco importando com o tempo dessa atração
Despi-me do pudor e te expus a alma nua
E se teu desejo caminhar de encontro ao meu
Eu serei infinitamente só tua
E tu serás infinitamente só meu...

ENCONTRAR ESTRELAS


ENCONTRAR ESTRELAS

Marlene Caminhoto Nassa

 

Encontro estrelas no firmamento

Mas elas se esparramam pelo pensamento

E se instalam no céu de sua boca

Procuro suavemente com a língua

Feito sedenta louca

Saciar essa fome e essa sede

E ela nunca é pouca

E para não morrer a míngua

Nessa rede que armo

No céu de sua boca

Sempre cismo de pescar lhe estrelas

Presas na língua

De sua palavra louca

E no perigo desse abismo

Sem fim

Que sempre cismo

Que essa sua boca

É para mim...

BENDITO FRUTO



BENDITO FRUTO

Marlene Caminhoto Nassa

 

O teu gozo quente,

Bendito fruto

Ejetado dentro do meu ventre,

Escorreu suavemente

Benzendo-me com ele,

Santificando o meu corpo,

Que agora virou oferenda,

Em meio aos lençóis de renda.

Tomastes e comestes,

Este era meu fluido, que foi derramado assim,

Louvando e lavando esse teu gozo

Com outro gozo que saia de dentro de mim...


 

MISSA NA CAMA


MISSA NA CAMA

Marlene Caminhoto Nassa

 

Quando me ofertas a ereção

Na consagração da missa na cama

Teu corpo dentro do meu

Profere a mais linda oração

E me consome nessa chama

 

Ardendo em devota contração

Beijas os seios, as coxas e a boca

Tu me chupas e me deixas louca

Quando me tocas o sexo com paixão

E eu te sugo, te molho e devoro

Teu corpo, tua alma e teu falo

E em espasmos grito e choro

__Fica dentro de mim

Imploro

E colada a ti enfim

Devagarinho eu me calo...

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013


TUA BOCA

Marlene Caminhoto Nassa

 

Dizer que tua boca

inspira coisa pouca

é pouco...

Meu desejo nela

E o que vem

de dentro dela

e é louco...

Ah se tu soubesses

ou sequer imaginasses

até onde a imaginação

me traz:

orgias verbais

orgias horizontais

a me despertar

infinitos áis...

Olhar assim tua boca

emoldurada em teu rosto

na janela perto de algum cais

Deus meu,

necessito dos meus sais!