terça-feira, 29 de março de 2011

CONTRATEMPO
Marlene Caminhoto Nassa

Viajo sempre
Contra o tempo
Desatando nós
Que a vida dá

É um trabalho louco
Pois o tempo
É sempre pouco
Para tanto nó desatar
A tempo
De te encontrar

Há muito contratempo
Não há como arrumar
Mais tempo
Nesse tempo
Nesses nós
E em nós...
DE MÃOS DADAS
Marlene Caminhoto Nassa

Minha paisagem é por inteiro
Sem ovelhas nem pastores,
Mas com galinhas brancas no galinheiro
O abacateiro
Roupas coloridas no varal

O pé de amoras, o formigueiro
Até o cheiro do quintal
Tudo fica numa caixinha
Bem ao lado da ladainha
Que minha mãe punha se a rezar

Lá no fundo da memória
Quando eu quero recordar
Abro devagar a caixinha
E a menina que está lá dentro
Vem correndo me buscar!

E nós saimos de mãos dadas
Ela me ensina a temer nada
E numa cúmplice parceria
Ela me reconstroi a alegria
Do pé descalço na enxurrada
De olhar o arco íris
Logo depois da chuvarada

E quando ela volta para a caixinha
Que gracinha!
Bem velhinha!
Aí sou eu que começo a engatinhar!

segunda-feira, 28 de março de 2011

VIVER VERSOS EM V

Marlene Caminhoto Nassa



Vivo vomitando versos

Vertendo várias versões

Verificando vazios

Vaticinando ventanias,

Varrendo visões vilãs


Verborragia verterá valor?

Vivo valorizando vulcões?


Vociferarei verdades vibrantes?

Vibrarei variados versos vãos?

Vorazes, virulentos?

Verdadeiros?

Vertendo vírus?


Varas vadias
Veremos várias

Violentando

Vulneráveis vulvas

Viciantes, virulentas...

Varrendo vitrificados varões!


Vivendo volátil vida

Vagabundos vagando vales

Vingarão?


Valentias?

Valores?

Vitórias vis virão?

Valerá vida vã?

Veremos...


Vate versos!!!

domingo, 27 de março de 2011

SEM ESPAÇO
Marlene Caminhoto Nassa

Estendo minhas mãos, num anseio,
Tentando,
Que doida,
Segurar meu devaneio!

Mas é meu sonho
Que me escapa
E se esfiapa,
E em mil rodeios me enleio.

E assim enleada e enrolada,
Sem ter de mim mais nada,
Só espiar é o que me resta,

E do cantinho desta fresta,
Tento içar de mim um pedaço,
Pois quem sabe,
Devagarinho,
Eu possa desatar esse laço!

Mas que tola!
Sem espaço!
Como posso?
Como faço?
REENCANTAR O OLHAR
Marlene Caminhoto Nassa


TU QUERIAS REENCANTAR O TEU OLHAR
E PENSANDO EM PODER TE AJUDAR,
AOS TEUS OLHOS DE MENINO,
UM COLORIDO EU QUIS DAR.

MAS DENTRO DE MIM,
QUANDO AS CORES FUI BUSCAR,
TOMEI-ME DE ESPANTO
EU ESTAVA VAZIA!
SEM COR E SEM ENCANTO...

SÓ AÍ FUI DAR-ME CONTA
QUE AS CORES E A ALEGRIA,
EU COLOCAVA TODAS NA POESIA
E FICAVA DESSE MODO
CADA DIA MAIS VAZIA!
AUSENTE
Marlene Caminhoto Nassa


REPOUSAS, NU, SOBRE O MEU PEITO,
COM A SENSAÇÃO DO SEU MELHOR FEITO.
MAS ESTAVAS MUITO DISTANTE...
SEM MUITA SEDE
SEM MUITA VONTADE
POSSUÍAS-ME AUSENTE
COMO QUEM CHUPA UMA FRUTA
E JOGA FORA A SEMENTE.
GATOS
Marlene Caminhoto Nassa

Vejo-o, às vezes, como um gato vadio
Que fica fora por dias a fio
Atrás de alguma gata no cio
Mas quando volta cansado
Arrependido...

Enroscando em minhas pernas
Implorando colo, chamego
Beijando as minhas costas
Falando bobagens em meu ouvido

Deslizando suas mãos macias
E me tampando a boca
Com um beijo lento, molhado

Esse bendito gato vadio
Me transforma em gata no cio!
TEATRO
Marlene Caminhoto Nassa

No ato do nosso amor
Atuo sempre como serpente
Seja a peça que for
E feito uma serpente
Eu me deslizo mansamente

Arrastando-me pelo teu corpo
Até ver a tua serpente
Levantar-se de repente...
E esse teu mastro
Imponente,
Que se forma
Dessa tua serpente

Provoca em mim arrepio,
E uma inundação quente
Que parece um rio.
E quando essa tua serpente,
Seguindo do rio a vertente,
Penetra dentro de mim,

Teu mastro é o grande astro
E meu sexo o camarim
Dessa nossa peça de teatro

E quando ouves meus gemidos
Já sabes que o ato está chegando ao fim...
Os atores se preparam
A platéia em excitação...
Está tudo pronto para o grande fim

Minha serpente engole a tua serpente
Que freneticamente
Entra e sai de dentro de mim
E agora essa grande contração?

É a platéia que grita e se levanta
É meu corpo que também te aplaude
Por sentir tua perfeita atuação!
CARNAVAL DOS POETAS
Marlene Caminhoto Nassa

É batuque na rua
É batuque no salão
E batuque no peito
Rimando no meu coração

Meus amores esfiapados
Transformei em serpentina
E espalhei pra todos os lados

Aqui só bebo alegria
Até me embriagar
Vamos entrar nessa folia
Sem ter hora pra parar

Passando de mão em mão
Conduziremos o trem da imaginação
Seremos o piloto do avião
Ou o comandante da embarcação

E sendo só imaginação
Sozinha nunca irei me sentir
No meio dessa multidão
Com as fantasias que poderei vestir

Sou a rainha sou o rei
E qualquer um outro serei
Dançando no Salão de festas
E no coração dos poetas!
CASTELOS NA AREIA
Marlene Caminhoto Nassa

Não quis reconhecer o óbvio
E mais uma vez construí
Um castelo na areia
E quando veio
A maré cheia
Ele se foi
Com o mar

Mas sabem por que
É na areia que
Eu os construo então?

Por que é só de areia
Que é feito meu chão..
CHAMA DE TEU CORPO
Marlene Caminhoto Nassa

Quando encostas teu corpo no meu
Ele entra imediatamente
Em combustão

É como se uma labareda
Soltasse do corpo teu
E atingisse o combustível
Do meu

Faísca de tesão
Desprende se do toque
De tua mão
Característica só
De quem ama
Chega dos olhos
Ao corpo e
Numa fração
Incendeia
A nossa cama
COLORINDO MEU SENTIR
Marlene Caminhoto Nassa

Ainda bem que sempre disponho
Dentro de mim uma paleta de cores
Para ir colorindo o que é risonho
E também o que são as dores

Sentimentos são coloridos
É só ter alma para enxergar
Roxos são amores doloridos
E vermelho seduz o amar

O meu pezar tem cor escura
E a paixão lembra o luar
Sentimentos benfazejos
Recordam o azul dos azulejos
Das paredes de além mar

O meu sentir hoje é tão branco
Que até chega os olhos ofuscar
Pois são todas as cores para o formar
E eu vivo em arco íris a sonhar
CHUVISCO
Marlene Caminhoto Nassa

Não quero ser
Só um chuvisco
Em terra seca
Estéril
Desenganada

Essa chuva tem que ser
Densa pesada
Uma chuvarada
Fácil de se perceber
Que encharque
Qualquer aridez

Promova
Fecundidades
Remova
Toda a estupidez
De amor
Que impede
De nascer
Flor

Mate do solo
A sede
Transmude
A sua cor

Não posso
Se quero tudo
Molhado ver
Simples chuvisco ser

Chuvinha
Que parece farinha
E que desce
Mansinha

Cansei de ser...
CHAMA DE TEU CORPO
Marlene Caminhoto Nassa

Quando encostas teu corpo no meu
Ele entra imediatamente
Em combustão

É como se uma labareda
Soltasse do corpo teu
E atingisse o combustível
Do meu

Faísca de tesão
Desprende se do toque
De tua mão
Característica só
De quem ama
Chega dos olhos ao coração e
Numa fração
Incendeia
A nossa cama
CASTELOS NA AREIA
Marlene Caminhoto Nassa

Não quis reconhecer o óbvio
E mais uma vez construí
Um castelo na areia
E quando veio
A maré cheia
Ele se foi
Com o mar

Mas sabem por que
É na areia que
Eu os construo então?

Por que é só de areia
Que é feito meu chão..
BELA ADORMECIDA SENSUAL
Marlene Caminhoto Nassa
Raquel Ordonez


Olhos fechados e corpo quente
Toque me de forma diferente
Reaviva de vez essa brasa
Habite em mim, faça sua casa

Nos meus lábios o doce beijo
Na sua boca palavras de desejo
Deixe me do seu céu ser a lua
Faça me trilhar seu corpo, minha rua

Sou a bela adormecida nesta cama a sonhar
Esperando o doce toque de Midas
Que suas mãos têm o dom de despertar
E saber do beijo a curar minhas feridas

Quero que me desperte desse sono diferente
E mostre me a vida em colorido pincel
Perceba com sua boca pelo meu corpo, de repente
O despertar da mulher explodindo em mel!
MEMÓRIA DA PELE
Marlene Caminhoto Nassa


Memória do teu corpo
Em minha pele
Ficou impregnada para sempre
Teu cheiro tua textura
Temperatura calor

Até tua altura
E teu suor

Como um santo sudário
Que a imagem de Cristo
Gravou
Num lençol a sangue
Por anos sem fim

Trago marcada
Em minha pele
Para sempre gravada
Tua memória em mim
SABOR DO VINHO
Marlene Caminhoto Nassa


O vinho tinto nas papilas vai explodir
Milênios de anos de cultura nesse sabor e
Transformará tua boca em cálice aonde vou sentir
O amálgama mágico do vinho com o teu calor

Quero me embriagar desse vinho e de tesão
Com tua língua porejando em minha boca
O sabor intenso da uva e do seu chão
Entrelaçando com a minha feito louca

E nessa dança de línguas enroscadas
Transferes o teu sabor para mim
E através das nossas bocas coladas
Beberei o vinho com teu beijo assim...
BOITATÁ
Marlene Caminhoto Nassa

Quero viver essa alegria
Participar dessa folia
E com voces duelar
Pular carneiro nas nuvens
E nos ventos rodopiar

Escutar na noite o lamento
De apaixonado sob o luar
Querendo o fim do tormento
E com sua amada reatar

Tecer num tear de estrelas
Redes para pescar o ar
Reter nos fios cintilantes
Todo brilho que amealhar

E com ele te fazer enfeite
Prender no teu dorso
E te deixar em deleite
Envolto nesse brilhar

E nas noites te ver
Pelos campos a voar
Iluminando qualquer clareira
Meu boitatá particular!
NO MAR
Marlene Caminhoto Nassa


Recolha as amarras
Levante seu mastro
E navegue em mim!

Meu mar é profundo
Estreito e fecundo
Para seu barco abrigar

Solte as velas enfim
Suspenda logo essa âncora
Deixe o barco derivar

Venha munido marinheiro
Estou pronta para pescar
Enfie com força sua lança
Tantas vezes que desejar

Acompanhando sua dança
E com seu dardo bem fundo
Escolhendo o que fisgar
Nesse mar eu me afundo

E por mais que não creia
Sua espuma se ejeta na areia
E eu viro sereia
E afogamos no mar

sábado, 26 de março de 2011

CARTAS MARCADAS
Marlene Caminhoto Nassa

Na escuridão do meu dia
Seguro fiapo de luz
Que possa
Nessa grande fossa
De alguma maneira
Me iluminar.

Só possuo a cruz do destino
Para nela me crucificar
E ela é tão fria
O quanto minha vida
É vazia

Nem mesmo o calor
Tão tênue desse verso
Fará algum reverso
Na nossa separação

Nas cartas marcadas
Desse destino tão perverso
Não haverá mais verso
Nosso jogo chegou ao fim

Eu sem você
E você sem mim...
CAÍ NO MUNDO E NÃO SEI COMO VOLTAR



O que acontece comigo é que não consigo andar pelo mundo pegando coisas e trocando-as pelo modelo seguinte só porque alguém adicionou
uma nova função ou a diminuiu um pouco…

Não faz muito, com minha mulher, lavávamos as fraldas dos filhos, pendurávamos na corda junto com outras roupinhas, passávamos,
dobrávamos e as preparávamos para que voltassem a serem sujadas.

E eles, nossos nenês, apenas cresceram e tiveram seus próprios filhos se encarregaram de atirar tudo fora, incluindo as fraldas. Se
entregaram, inescrupulosamente, às descartáveis!

Sim, já sei. À nossa geração sempre foi difícil jogar fora. Nem os defeituosos conseguíamos descartar! E, assim, andamos pelas ruas,
guardando o muco no lenço de tecido, de bolso.

Nããão! Eu não digo que isto era melhor. O que digo é que, em algum momento, me distraí, caí do mundo e, agora, não sei por onde se volta.

O mais provável é que o de agora esteja bem, isto não discuto. O que acontece é que não consigo trocar os instrumentos musicais uma vez por
ano, o celular a cada três meses ou o monitor do computador por todas as novidades.

Guardo os copos descartáveis! Lavo as luvas de látex que eram para usar uma só vez.

Os talheres de plástico convivem com os de aço inoxidável na gaveta dos talheres! É que venho de um tempo em que as coisas eram compradas
para toda a vida!

É mais! Se compravam para a vida dos que vinham depois! A gente herdava relógios de parede, jogos de copas, vasilhas e até bacias de louça.

E acontece que em nosso, nem tão longo matrimônio, tivemos mais cozinhas do que as que haviam em todo o bairro em minha infância, e
trocamos de refrigerador três vezes.

Nos estão incomodando! Eu descobri! Fazem de propósito! Tudo se lasca, se gasta, se oxida, se quebra ou se consome em pouco tempo para que
possamos trocar. Nada se arruma. O obsoleto é de fábrica.

Aonde estão os sapateiros fazendo meia-solas dos tênis Nike? Alguém viu algum colchoeiro encordoando colchões, casa por casa? Quem arruma
as facas elétricas? o afiador ou o eletricista? Haverá teflon para os funileiros ou assentos de aviões para os talabarteiros?

Tudo se joga fora, tudo se descarta e, entretanto, produzimos mais e mais e mais lixo. Outro dia, li que se produziu mais lixo nos últimos
40 anos que em toda a história da humanidade.

Quem tem menos de 30 aos não vai acreditar: quando eu era pequeno, pela minha casa não passava o caminhão que recolhe o lixo! Eu juro! E
tenho menos de ... anos! Todos os descartáveis eram orgânicos e iam parar no galinheiro, aos patos ou aos coelhos (e não estou falando do
século XVII). Não existia o plástico, nem o nylon. A borracha só víamos nas rodas dos autos e, as que não estavam rodando, as
queimávamos na Festa de São João. Os poucos descartáveis que não eram comidos pelos animais, serviam de adubo ou se queimava..

Desse tempo venho eu. E não que tenha sido melhor.... É que não é fácil para uma pobre pessoa, que educaram com "guarde e guarde que
alguma vez pode servir para alguma coisa", mudar para o "compre e jogue fora que já vem um novo modelo".

Troca-se de carro a cada 3 anos, no máximo, por que, caso contrário, és um pobretão. Ainda que o carro que tenhas esteja em bom estado... E
precisamos viver endividados, eternamente, para pagar o novo!!! Mas... por amor de Deus!

Minha cabeça não resiste tanto. Agora, meus parentes e os filhos de meus amigos não só trocam de celular uma vez por semana, como, além
disto, trocam o número, o endereço eletrônico e, até, o endereço real.

E a mim que me prepararam para viver com o mesmo número, a mesma mulher, a mesma e o mesmo nome (e vá que era um nome para trocar). Me
educaram para guardar tudo. Tuuuudo! O que servia e o que não servia. Por que, algum dia, as coisas poderiam voltar a servir.

Acreditávamos em tudo. Sim, já sei, tivemos um grande problema: nunca nos explicaram que coisas poderiam servir e que coisas não. E no afã
de guardar (por que éramos de acreditar), guardávamos até o umbigo de nosso primeiro filho, o dente do segundo, os cadernos do jardim de
infância e não sei como não guardamos o primeiro coqo.

Como querem que entenda a essa gente que se descarta de seu celular a poucos meses de o comprar? Será que quando as coisas são conseguidas
tão facilmente, não se valorizam e se tornam descartáveis com a mesma facilidade com que foram conseguidas?

Em casa tínhamos um móvel com quatro gavetas. A primeira gaveta era para as toalhas de mesa e os panos de prato, a segunda para os
talheres e a terceira e a quarta para tudo o que não fosse toalha ou talheres. E guardávamos...

Como guardávamos!! Tuuuudo!!! Guardávamos as tampinhas dos refrescos!! Como, para quê? Fazíamos limpadores de calçadas, para colocar diante
da porta para tirar o barro. Dobradas e enganchadas numa corda, se tornavam cortinas para os bares. Ao fim das aulas, lhes tirávamos a
cortiça, as martelávamos e as pregávamos em uma tabuinha para fazer instrumentos para a festa de fim de ano da escola.

Tuuudo guardávamos! Enquanto o mundo espremia o cérebro para inventar acendedores descartáveis ao término de seu tempo, inventávamos a
recarga para acendedores descartáveis. E as Gillette – até partidas ao meio – se transformavam em apontadores por todo o tempo escolar. E
nossas gavetas guardavam as chavezinhas das latas de sardinhas ou de corned-beef, na possibilidade de que alguma lata viesse sem sua chave.

E as pilhas! As pilhas das primeiras Spica passavam do congelador ao telhado da casa. Por que não sabíamos bem se se devia dar calor ou
frio para que durassem um pouco mais. Não nos resignávamos que terminasse sua vida útil, não podíamos acreditar que algo vivesse
menos que um jasmim. As coisas não eram descartáveis. Eram guardáveis.

Os jornais!!! Serviam para tudo: para servir de forro para as botas de borracha, para por no piso nos dias de chuva e por sobre todas as
coisa para enrolar.

Às vezes sabíamos alguma notícia lendo o jornal tirado de um pedaço de carne!!! E guardávamos o papel de alumínio dos chocolates e dos
cigarros para fazer guias de enfeites de natal, e as páginas dos almanaques para fazer quadros, e os conta-gotas dos remédios para
algum medicamento que não o trouxesse, e os fósforos usados por que podíamos acender uma boca de fogão (Volcán era a marca de um fogão que
funcionava com gás de querosene) desde outra que estivesse acesa, e as caixas de sapatos se transformavam nos primeiros álbuns de fotos e os
baralhos se reutilizavam, mesmo que faltasse alguma carta, com a inscrição a mão em um valete de espada que dizia "esta é um 4 de bastos".

As gavetas guardavam pedaços esquerdos de prendedores de roupa e o ganchinho de metal. Ao tempo esperavam somente pedaços direitos que
esperavam a sua outra metade, para voltar outra vez a ser um prendedor completo.

Eu sei o que nos acontecia: nos custava muito declarar a morte de nossos objetos. Assim como hoje as novas gerações decidem ‘matá-los’
tão-logo aparentem deixar de ser úteis, aqueles tempos eram de não se declarar nada morto: nem a Walt Disney!!!

E quando nos venderam sorvetes em copinhos, cuja tampa se convertia em base, e nos disseram: ‘Comam o sorvete e depois joguem o copinho
fora’, nós dizíamos que sim, mas, imagina que a tirávamos fora!!! As colocávamos a viver na estante dos copos e das taças. As latas de
ervilhas e de pêssegos se transformavam em vasos e até telefones. As primeiras garrafas de plástico se transformaram em enfeites de
duvidosa beleza. As caixas de ovos se converteram em depósitos de aquarelas, as tampas de garrafões em cinzeiros, as primeiras latas de
cerveja em porta-lápis e as cortiças esperaram encontrar-se com uma garrafa.

E me mordo para não fazer um paralelo entre os valores que se descartam e os que preservávamos. Ah!!! Não vou fazer!!!

Morro por dizer que hoje não só os eletrodomésticos são descartáveis; também o matrimônio e até a amizade são descartáveis. Mas não
cometerei a imprudência de comparar objectos com pessoas.

Me mordo para não falar da identidade que se vai perdendo, da memória coletiva que se vai descartando, do passado efêmero. Não vou fazer.

Não vou misturar os temas, não vou dizer que ao eterno tornaram caduco e ao caduco fizeram eterno.

Não vou dizer que aos velhos se declara a morte apenas começam a falhar em suas funções, que aos cônjuges se trocam por modelos mais
novos, que as pessoas a que lhes falta alguma função se discrimina o que se valoriza aos mais bonitos, com brilhos, com brilhantina no
cabelo e glamour.

Esta só é uma crônica que fala de fraldas e de celulares. Do contrário, se misturariam as coisas, teria que pensar seriamente em
entregar à ‘bruxa’, como parte do pagamento de uma senhora com menos quilômetros e alguma função nova. Mas, como sou lento para transitar
este mundo da reposição e corro o risco de que a ‘bruxa’ me ganhe a mão e seja eu o entregue...

* Jornalista e escritor uruguaio
Eduardo Galeano

O BRASIL NA VISÃO DOS AMERICANOS ( REPORTAGEM DA TV AMERICANA) - O ORIG...

sexta-feira, 25 de março de 2011

FOSSA
Marlene Caminhoto Nassa

As pedras e os espinhos
Ao seguir por essa estrada bela
Dilaceram me aos pouquinhos
E vão me espalhando por ela

Meus pedaços vão ficando
Enquanto sigo caminhando
Espalhados pelo chão...
Minha voz rouca vai se tornando
E ninguém mais ouve, não.

Nessa estrada, é verdade,
Cada um com sua ocupação
Não tem tempo ou vontade
De me dar sua atenção

Sigo assim aos pedaços
Caindo em qualquer lugar
Tentando fazer laços
E com meus frágeis braços
Procurar até reter o luar...

Mas no fim do meu caminho
Sem ter mais nenhum pedacinho
Fico vazia e no escuro a chorar...
Lamentando e questionando
Se valeu a pena o meu caminhar...
FLORES E AMORES
Marlene Caminhoto Nassa

É difícil para o poeta
Falar em flores e amores
Quando o peito
Não está a sangrar

Quanto mais ele sofrer
Melhor consegue escrever
Ele busca no fundo
Da memória
Uma triste história
Para se inspirar

Mas coitado do poeta
Como pode do amor
Sua pena exaltar?
Se ele foi tão pisado
Está até atordoado
Nem consegue se levantar...

Como falar da beleza das flores
Se nelas ele consegue pensar
Somente para sua lápide enfeitar?

Deixemos hoje o poeta
Muito mais triste ficar
Pois se ele ficar contente
Não consegue mais poetar...
FIM
Marlene Caminhoto Nassa

Nossa história foi tão curta
Que encontrou logo seu fim
Sou hoje uma folha seca
Inerte neste jardim...

Tento, em vão, buscar um apoio,
Separar o trigo do joio,
Acreditando que a decisão foi certa,
O que começa errado não se conserta...

Na solidão de dentro de mim
Impossível recolher os cacos assim,
Dar a mão à palmatória e
Reconhecer que eu errei

Colocar o orgulho do lado,
Prometer nunca mais cometer o pecado
De gostar de quem não gosta de mim...

feito em uma noite de fossa...

DEVANEIOS...
Marlene Caminhoto Nassa

Deveria ter-me afastado de ti
Evitaria esse sofrimento atroz
Vendo que tudo foi em vão...

As juras que me fazias
Nunca valeram um tostão
E as promessas de amor
Infelizmente também não...

O tempo poderá curar minha dor
Se eu conseguir sair deste chão!
DISFARCE
Marlene Caminhoto Nassa

Tu te suplantas
Nos disfarces
E nas mentiras
Que tentas
Aplicar em mim

Sabes que não sou idiota
Mas se comporta mesmo assim
Enganas a ti próprio
Não a mim

Lugar de palhaço
É no picadeiro
E de galo
É no poleiro

Estou muito cansada
De atitudes infantis
Cresça
Amadureça
Enfim

Quem sabe
Não haverá
Entre nós
Inevitável fim

feito num dia de fossa...

DOR
Marlene Caminhoto Nassa

Nos dias cinzentos, sem sol
Minha alma parece que se recolhe
Despertam me nostalgias
E minha alegria se encolhe

Uma tristeza indistinta
Paira dentro de mim
Não sei entender direito
Por que nesses dias sinto assim

Vontade de me trancar
Não ver ninguém
E somente chorar...

É a sensação de desamor
De ser muito fraquinha
E de não agüentar tanta dor!
É TARDE DEMAIS?
Marlene Caminhoto Nassa

Missão cumprida
Filhos criados
Encaminhados
Vontade
De recomeçar

Uma nova carreira
Uma nova vida
Um outro vivenciar
Sem nenhuma opressão

È até possível
Não ser compreendida
Sentir solidão

Ser agredida
Por expor
A ferida
Sem compaixão

Será que vale a pena
Sair de cena
Em plena atuação?

Não é
Tarde demais
Para sonhar
Para gostar de si
Querer se preservar?

Não é tarde demais
Para algum recomeço
Enfrentar o tropeço
Que o futuro poderá dar?

Não é tarde demais
Para se ter esperança
Sem viver de lembrança
Ruim de guardar?

Não é tarde demais
Para novamente
Amar?
CONSTELAÇÃO
Marlene Caminhoto Nassa
Lena Serena

Tudo o que mais quero agora
É que repouses tua boca em mim
Percorrendo meus caminhos assim

Que gota a gota pingue sem cessar
Teu sal e mel retemperando o desejo
E engula com teu beijo o meu pensar

Que te aposses de meus sonhos
E descubras meus mais ousados anseios
Explorando com tua boca os meus seios

Que sacies a tua e a minha fome
Pescando estrelas no céu da minha boca
E pouco a pouco tu me ponhas louca

Enquanto me possuis e gritas o meu nome
Vais dizendo que me ama
Trocando estrelas pela nossa boca

E uma constelação delas se derrama
Inteirinha em nossa cama...

BRINCANDO COM A LETRA S

SOLUÇOS E SUSSURROS
Marlene Caminhoto Nassa

Sufoquei soluços
Sacrifiquei sentimentos
Sentindo ser suficiente
Simplesmente separar
Sussurros sinceros

Seriam suficientes?
Sumiriam sensações
Se sacudidas severamente?

Saberei somente,
Sem supor safadezas,
Se somente sobrarem
Sinceras sutilezas

Se sumirem saudades,
Soluços sucumbirem,
Suporei serem
Substituídas sumariamente,
Soluções sábias

Senão...
Soluços sufoque
Serenamente
Seja surdo sempre...

Satisfaça sua sede
Sem suor...
Sussurros soterre
Saboreie somente
Sabedoria

Seja sutil
Sempre!
ABSINTO E POESIA
Marlene Caminhoto Nassa.

O som de Cesária Évora penetra
Em meus ouvidos
Tua imagem nua
Aguça meus sentidos
Banhada nessa luz da lua
E no caleidoscópio
De meus desejos incontidos

É como uma tsunami
Que se aproxima veloz
Eriçando a pele
Invadindo minha praia
Inundando meus vales e fendas
Sob a minha saia

Porejam meus canais
Ao som de meus ais
Enquanto me dispo
Compreendendo os teus sinais

E nesse mar de sedução
Mergulhas mais fundo
E fazes da minha fenda
Teu cálice de absinto
Brindando no lençol de renda

Embriagados nesse absinto
Nossos corpos escrevem poesias
De desafio e cordel
Quando recito um verso
Retiras dele meu mel
E respondes outro molhado
Com teu corpo colado
Ao meu

E no meio desse mar
Do meu desejo e do teu
Nossas águas se acalmam

Minha poesia volta agora
Novamente a se banhar
Em versos livres ao luar
Tomo mais um gole de Absinto
Ouvindo Cesária cantar
Nas entrelinhas fico a te espiar...
AS DUAS LÍNGUAS
Marlene Caminhoto Nassa

Sua língua é sensual, com certeza,
Mas não se esqueça não
De sempre fazer a correção
Também da língua portuguesa!

Dou o desconto pela empolgação
Pela intensidade da paixão
As duas línguas devem ser cuidadas com amor
Aquela que explora um corpo
E a outra que fala o que for...

A pessoa saborosa é aquela que sabe bem
Esgrimir a língua da boca
E a língua da pátria também...
EDREDOM
Marlene Caminhoto Nassa

Embaixo do edredom
Mãos em sintonia
Num mesmo tom
Esquentaram a noite fria
E entramos em ebulição

Com nosso corpo colado
O coração pulsando apressado
O pobre do edredom
Foi logo jogado de lado

Melhor do que qualquer
Cobertor
É ter uma relação
Com amor
VALSA
Marlene Caminhoto Nassa

A valsa
Da vida
Passou
Um traço
Em volta
De mim
E de você

Me amarrou
Nesse laço
Sem saber
O que faço
Sem sequer
Me ensinar
A valsar...

Tentei seguir
O seu passo
Da valsa
Da vida
Sem curar
A ferida
Que está
A sangrar

Não posso
Não devo
Continuar
O descompasso
No passo
Sem atrapalhar
Seu valsar

Sigo
Tropeçando
Valsando
Chorando
Esperando
Essa valsa
Acabar
A POESIA
Marlene Caminhoto Nassa

Só a poesia
É hoje minha companhia
E me deixa menos vazia
Nesta grande solidão

É ela tudo o que tenho
Meu alimento
Meu alento
Minha paz e
Minha luz
Ajuda a aliviar
A cruz de meu penar

Poesia minha querida
Com o sangue novo
Do teu verso
Inunde as minhas veias

Cure-me a ferida
Prenda-me
Em tuas teias
Ate-me
Definitivamente
À vida!
A PARTIR DE AMANHÃ
Marlene Caminhoto Nassa

A partir de amanhã
Essa peça poderá ser diferente
Se passar de coadjuvante a atriz
E fizer o que me der no nariz

Não posso continuar descrente
Fazendo só o que te dá prazer
Se eu logo esse script mudar
O final da peça será diferente

Já fiz muitas concessões
Representando até cena por ti
Não desejo mais as pressões
Agora é cada um por si

Amanhã sozinho estarás a atuar
E se em alguma cena falhar
Não poderás fazer o que fazia
Que era sempre a culpa me jogar
A MARIPOSA E A LÂMPADA
Marlene Caminhoto Nassa

Tão tonta como uma mariposa
Que vai a busca de luz
E morre sem piedade
Da lâmpada que a seduz

Fui em busca do teu chamado
Sem me importar com o pecado
Ofuscada pela brilhante luz
Dessa paixão desmedida

Já sabia o que esperar
Dessa ilusão descabida
Eu me apoiei em ti
Mesmo sabendo seres vento

Não pude então reclamar
Quando o vento virou furacão
Varrendo e levando com ele
Meus sonhos e minha ilusão
VOZES DA ALMA
Marlene Caminhoto Nassa


Nem sempre consigo e desejo
Ouvir o que diz a minha alma
E ela sempre nos fala sem pejo
Com sabedoria e muita calma

Nunca te conheci de verdade
Só fragmentos espalhados ao léu
Traçaram teu retrato sem sinceridade
Muitas vezes toldados por véu

Véu de ignorância e dissimulação
Ou daquilo que eu não quis enxergar
Cheia de esperança e ilusão
Nas mentiras que me fazias acreditar

Se eu tivesse ao menos ouvido
O que minha alma esteve sempre a falar
Não estaria hoje de coração partido
E nem teria a tristeza a me acompanhar
Aos meus leitores:


Resolvi colocar a esmo minhas poesias, feitas em diversas épocas e sob diferentes emoções, tento fazer um arquivo, já que sou dispersiva demais... Não reparem se algumas possuirem menos qualidades literárias...
DESLIZAMENTOS
Marlene Caminhoto Nassa



Suavemente tentando abrir
Teus dedos pelos botões deslizam
E aos poucos eles vão cedendo
E partes de meu corpo vão aparecendo

A blusa desliza desabotoada
Contornando a forma minha
E aos poucos amontoada
Aos teus pés ela se aninha

Deslizas agora tua língua
Pela extensão do corpo meu
Saboreando dele o meu gosto
E deixando nele o gosto teu

Deslizando no lençol de cetim
Nos encaixamos em côncavo convexo

Enquanto deslizas tua mão em mim
Aproveitamos o melhor do nosso sexo
SEM ESPAÇO
Marlene Caminhoto Nassa

Estendo minhas mãos, num anseio,
Tentando,
Que doida,
Segurar meu devaneio!

Mas é meu sonho
Que me escapa
E se esfiapa,
E em mil rodeios me enleio.

E assim enleada e enrolada,
Sem ter de mim mais nada,
Só espiar é o que me resta,
E do cantinho desta fresta,
Tento içar de mim um pedaço,

Pois quem sabe,
Devagarinho,
Eu possa desatar esse laço!

Mas que tola!
Sem espaço!
Como posso?
Como faço?
SEDUÇÃO
Marlene Caminhoto Nassa

Quero vestir minha alma
Com a transparência
Das rendas e do cetim
Para que tu a conheças
Melhor assim

Delinear o contorno
Dos olhos de negro
E nas faces espalhar
O mais puro carmim

Maquiar a boca de vermelho
Para o meu beijo marcar
Pelo teu corpo inteiro
E te prender com meu beijar

Amarrar-te em uma teia
De perfumes e luz de velas
Em candelabros de cristal

Tirar devagarzinho a meia
Enquanto ficas a me espiar
Desenhar com dedos e a boca
Loucas telas
No teu pensar

Lambuzar com cores
Todo o teu desejar
Arrepiar-te por inteiro
Esquecendo os pudores

Colocar te em ebulição e
Sentir te meu e verdadeiro
Nessa deliciosa sedução
PRESENTE A UM POETA

Marlene Caminhoto Nassa.

No quintal do céu fui buscar
E no canteiro das estrelas,
Colhi a mais bela pra te ofertar,
Pois qual outro presente
Um poeta poderia almejar?

E que o brilho dessa mesma estrela
Guie-te por um caminho iluminado
Que desperte mais ainda o teu centro de criação
E nessa doce ebulição,
Acalentada em teu coração,
Irás marcando, com teu verbo inspirado,
Todos os lugares da alma
Que fazem germinar poesia.

E além de colheres sonho e alegria,
Conseguirás também entender
Que aonde nasce a poesia,
A dor aumenta e te silencia,
Se o amor for sempre mais valia.

No meio do teu verso,
Doce poeta,
O louco amor que estás a buscar,
Com a alma de quem nunca se completa,
Nosso destino perverso,
Destino de quem faz verso,
Pode uma peça nos pregar.
Quando acreditamos encontrar esse amor,
Veremos, cheios de dor
E sozinhos,
Novamente vazios, nossos ninhos...
PARALELAS
Marlene Caminhoto Nassa

Dois caminhos
Dois destinos
Duas vidas desiguais
Duas quimeras
Dois olhos que às vezes se buscam
Duas paralelas...

Duas ilusões
Neste espaço
Sem laço
Sem traço
Sem abraço

Sozinhas nossas duas almas
O destino das paralelas têm
Pois mesmo caminhando lado a lado
Nunca se encontrarão também!
PALAVRA FERINA
Marlene Caminhoto Nassa

Tu bem que consegues
Com tua palavra ferina
Desestruturar meus esteios
Sem que eu consiga meios
De me reerguer

Tua palavra é tão forte
Que me tira o norte
Parece um arpão
Fulminando meu centro
Da emoção

A tua palavra ferina
Machuca mais profundamente
E me deixa impotente
Atada a essa tua torrente
Verbal

Desequilibrada
Magoada
Sem poder me recompor
Fazes um duelo desigual
Não és mais o meu amor
És apenas o meu rival...
OS VÔOS DA IMAGINAÇÃO
Marlene Caminhoto Nassa

Tentar atingir os píncaros mais altos
Fazer brotar de pedra as sementes
Alimentar-se das vertentes nesses saltos
E deixar se levar nas torrentes

Alcançar o âmago do sentimento
Esmiuçar desejos recônditos
Desnudar pudores do que pensamos
E até arriscar-se em caminhos malditos
É o que fazemos nos vôos que damos

E como um diamante bruto
Que quanto menor vai ficando
Ao ser, aos poucos, lapidado,
Seu brilho vai aumentando,
Em cada vôo da imaginação
Que na vida nos lançamos
Nosso espírito cada vez mais
Irá aos poucos se ampliando!
NAQUELA LUA CHEIA
Marlene Caminhoto Nassa

A lua inteira e nua
Pintava desenhos
Cor de prata
Enfeitando toda
A mata

Seus raios
Que entravam
Nas alcovas
Eram os pincéis
Que rabiscavam
Nos dóceis

Desenhavam
Nos corpos dos amantes
Contornos prateados
Fulgurantes
Testemunhas únicas
Desses instantes

Impossível imaginar
Que aquele luar
Pudesse testemunhar
Tanta dor
E tanto amor

Por não ter a sorte
O amante apaixonado
De junto dela ficar
Um pacto de morte
Foi selado ao luar

Naquela lua cheia
Que prateou o lençol
Dos amantes
Viu se ao nascer do sol
Cenas impressionantes

Hoje nada mais é desenhado
Como no tempo dos amantes
O raio da lua é acanhado
Bem mais triste do de antes...
NA PÚRPURA EMOÇÃO
Marlene Caminhoto Nassa

Vejo cores na emoção
Resgato um azul cobalto
Da tristeza e da decepção
Alegro me num vibrante vermelho
Como o batom refletido no espelho

A paz é sempre apontada
Depois de uma grande chuvarada
No azulado da noite enluarada
Ou no branco do cabelo
Daquela velha abandonada

Vou vivendo e colorindo emoções
Arrancando a cor roxa da dor
Apagando o negro que há na alma
E quando o amor vai surgindo
Transmuda-se célere a cor

Irradiando a beleza
Do amarelo a leveza
Vai iluminando sem pudor

E a paixão quando enfim aparece
De cor púrpura avassaladora
Ninguém nunca mais se esquece

E nesse caleidoscópio de cores
Vou vivendo as minhas cores
Nos prazeres e nas alegrias
Nas tristezas e nas dores!
MENSAGEM
Marlene Caminhoto Nassa

Ouve minha mensagem
Eu a envio por esta tarde triste
Entenda o que ela quer dizer
A vida emudeceu!
Tudo é frio...

Os homens não mais se comunicam
Em seus olhares.
As sarjetas sujas
Gritam a dor dos eternos pisares.
As paredes frias, cuspidas,
Emudecidas,
Expõem as suas feridas.

As árvores despem-se das folhas
Que num triste bailado
Caem de qualquer lado
Dançam tontas ao vento
E morrem sozinhas
Aqui no relento

Esquecem das sombras fizeram
Do perfume que exalaram
E das frutas que alimentaram

E nesse ciclo sem fim
Essas folhas secas
Lembram muito a mim...
INSACIÁVEL
Marlene Caminhoto Nassa

Não tem fim a sede
Que tenho de te
Amar
É como a água
Na areia do mar
Que vai e volta
Sem cessar

Não me canso
Dos teus beijos
Dos teus carinhos
Dos teus desejos
E de ficares dentro de mim

Eu te recebo
E te acolho
Num prazer sem fim
Estarei sempre querendo
Que me possuas
Eternamente assim

Insaciável desejo
Insaciável tesão
Não me sacio sem teus beijos
Nem tampouco com minha mão...
IMPOSSÍVEL
Marlene Caminhoto Nassa

Impossível não temer teus olhos de mar...
Difícil não desejar teu abraço,
Tua ternura, teu afeto e a presença tua
E uma amizade da cor do dia
Em que posso expor-te a alma nua...

A troca de conversas
E as correntes de ventos
Quentes,
Hão de levar-te
Sempre,
Não só as alegrias
Do dia,
Mas também a solidão,
O desejo e a distância
Da noite,
Entre a ânsia do que queremos
E do que podemos...

Da perplexidade ao sondar
A insanidade que vivemos
Nas infinitas formas de amar!
HORA CERTA
Marlene Caminhoto Nassa

Hora certa não combina
Com o caos de nossa relação
Quando me queres menina
Eu me encontro numa sinuca fina
Por mais que tente não dá não
Sou velha carcomida
Perdendo aos poucos a razão

Outras vezes
É a hora
De seres tu o ancião
Quando arteira e festeira
Eu te derrubo no chão

Na hora do teu descanso
Inventa de um calorão me dar
Enquanto queres dormir
Um chilique começa a aflorar

Cutuco, atiço
Lanço até um feitiço
Para ele levantar
Não adianta, desisto
Viro para o lado
Não mais insisto

Essa situação tem que mudar!

Precisamos mexer os ponteiros
Para nosso tempo não ser incerto
E com o relógio acertado
Toda hora será boa, por certo...
GOSTOSURA
Marlene Caminhoto Nassa


Gostosura lembra infância
O algodão doce o picolé
Apanhar goiaba no pé
Das flores e das frutas
Seus cheiros seus sabores

São tantas as gostosuras
Que tenho para lembrar
Um colo de mãe
Bem quentinho
Para compensar
Algum machucadinho
Ou uma febre
Aplacar

Gostosura
Eram os sons
Da cantiga de roda
E molhar os pés
Na enxurrada
Depois
Da chuvarada

Formosura
Era olhar
As cores do arco íris
Nas penas do pavão
E até nas lágrimas
Ao chorar
No sol

Adormecer cansado
De tanto contar estrelas
Sonhar ser alado e voar
Para vê-las de pertinho
E quem sabe
Devagarzinho
Trazê-las
Para consigo morar

Gostosura
É também
Recordar...
GAVIÃO NA CONTRAMÃO
Marlene Caminhoto Nassa

Tu fostes o gavião
Que veio na minha contramão
Chegou atropelando tudo
E não me deu tempo
Sequer de refletir

Não reparei que
Eras ave de rapina
Predadora
Usavas as unhas
Em surdina

Em teu bico
E atada às tuas garras
Na contramão
Fui teu petisco
Sem chance de um não

Depois que te fartastes
Fiquei aos pedaços
Incapaz de recompor
Laços
Incapaz de novo amor!
EU JÁ SABIA!!!!
Marlene Caminhoto Nassa


Eu já sabia
Que você um dia
Viria
Me procurar

Tentar me enganar
Com falso alarme
De mal estar
Chorando saudade
Na maior falsidade

No começo
Até acreditava
Aceitava e perdoava

Desculpe, cansei

Foram tantas mentiras
Permeadas também
De um pouco de amor
Não posso negar

Vivi numa corda bamba
Tentando esticar
Sem saber
O que esperar

O que antes
Não via
Ou não percebia
Está claro para mim

Eu já sabia
Que seu amor
Era fantasia
Hipocrisia
E não era amor

Agora seja o que for
Só aceito o perfeito
Estou cansada de dor

Com esse seu jeito
De rei
Vê se entra no prumo
Agora já sei
Vou seguir
Sozinha o meu rumo...
Cansei!
ESPELHOS
Marlene Caminhoto Nassa

Espelho de dentro de mim o que apontas?
Não é o mesmo de aqui fora
Enquanto minha face ri às tontas
O espírito aqui dentro de mim só chora

Espelho, espelho meu, até quando sofrer?
E ter que esconder do outro
A tristeza que está a me abater?
Até quando ocultar esse duplo viver?


(Agora Brincando:)
ESPEIO

Espeio marvado,
Sáia já do meu lado!
Onde se viu me mostrá desse jeito?
Vou tomá peito e te quebrá!

Num tenho tanto defeito
Sou uma belezura
E não essa feiúra
Que ocê insiste em mostrá!

xxx

O espelho da madrasta
Sempre mostra oposição
Num concurso de beleza
Sem nenhuma grandeza
Xxx

Espelho de madrasta me maltrata
E fico as nuvens a olhar
E a imagem põe se a bailar
Nesse mar tão bom de mergulhar

quebro espelho
não sou pentelho
Tenho joelho
Que doi sem parar

Xxxxx

Espeio espeio meu

Espeio marvado,
Sáia já do meu lado!
Onde se viu me mostrá desse jeito?
Vou tomá peito e te quebrá!

Num tenho tanto defeito
Sou uma belezura
E não essa feiúra
Que ocê insiste em mostrá!

Óia seo espeio
Cum image num si brinca
Desse jeito que me mostra
Minha aparença ocê trinca

Sou linda
Feito barbuleta no ispaço
Si num enxerga isso
Te parto em pedaço


Marlene Nassa / ღRaquel Ordonesღ
Xx

Anorkinda
Espeio marvado,
Sáia já do meu lado!
Onde se viu me mostrá desse jeito?
Vou tomá peito e te quebrá!

Num tenho tanto defeito
Sou uma belezura
E não essa feiúra
Que ocê insiste em mostrá!

Pruquê ocê não me revira
do lado de drento da alma?
Lá tem linduras que brilham
todo dia e ocê num qué vê!

Espeio desmiolado
Não me provoque
De módoqui eu te espaio
em mil caquinhos de desprezo!

Marlene Nassa e Anorkinda
ESPELHOS

Espelho de dentro de mim o que apontas?
Não é o mesmo de aqui fora
Enquanto minha face ri às tontas
O espírito aqui dentro de mim só chora

Espelho, espelho meu, até quando sofrer?
E ter que esconder do outro
A tristeza que está a me abater?
Até quando ocultar esse duplo viver?

Ah! Espelho meu, me diga, por favor,
Porque agora me dou conta desta dor?
Se ela sempre esteve aqui a me nublar
E mesmo estando eu, a disfarçar

Sempre corroeu, deixando a face, a se marcar
Mesmo seguindo, fingindo não chorar
Mas hoje, ante a ti, espelho meu
Não quero minha dor, mais uma vez,
Mascarar...

FIM

FIM
Marlene Caminhoto Nassa

Nossa história foi tão longa
Mas encontrou um dia o seu fim
Sou hoje uma folha seca
Inerte neste jardim...

Tento, em vão, buscar um apoio,
Separar o trigo do joio,
Acreditando que a decisão foi certa,
O que começa errado não se conserta...

Na solidão de dentro de mim
Impossível recolher os cacos assim,
Colocar o orgulho do lado,
Prometer nunca mais cometer o pecado
De gostar de quem não gosta de mim...
DE MÃOS VAZIAS
Marlene Caminhoto Nassa

Lá fora a chuva do verão alaga a cidade
E leva de roldão sonhos vidas ilusão
Aqui dentro do meu quarto, sem piedade,
De mãos vazias eu me sinto em prisão

Prisão na minha própria dúvida
Prisão na minha própria reflexão
Enclausurada nos desencantos da vida
Angustiada por não ver solução

Se a noite parece sonho pra alguém
Para mim não parece não
A inacreditável realidade também
Não nos oferece conforto ou perdão

A chuva que chora na vidraça, sem cessar
Pode parecer que de mim se compadece
Ilusão! Olhos de vidro não podem chorar
E mão vazia nada oferece...

Musiquei essa poesia

CARNAVAL DA VIDA
Marlene Caminhoto Nassa

Eu não fui colombina
Nem você foi pierrot
Não existe a alegria
Mas foi só você quem mudou

Já brinquei no salão
Sozinha na multidão
Já chorei na cadência
Já rompi um cordão

Se eu não fui colombina
Nem você foi pierrot
Cadê meu coração?
Com quem é que ficou?

Se eu não fui colombina
E nem você pierrot
Por que hoje a tristeza
Em meu peito restou?

Se eu não fui colombina
E nem você pierrot
Do seu amor de fantasia
O que é que pra mim restou?

Só quarta feira
Só quarta feira de cinzas
Em minha alma ficou...
APENAS MULHER
Marlene Caminhoto Nassa

Quem é que disse
Que a mulher deve ter
Inúmeras jornadas de trabalho?

Ela é a cozinheira
A lavadeira
A motorista
A babá

A professora
A enfermeira
E até bombeira
Precisa ser
Se há fogo
Para apagar

Não tem futebol
Tem só que
Lavar chuteira
E meião
Seu happy hour
É no fogão

Além de fazer
Isso tudo em casa
Tem que ser
Profissional exemplar
Na sua repartição

Enquanto o marido espera
Na frente da tevê seu jantar
Ela tem que estar perfumada
Para ele na cama ao deitar

Esse homem só vai aprender
À mulher dar seu valor
No dia em que ostentar
Na sua testa um esplendor!
MAR DO AMOR
Marlene Caminhoto Nassa

Foi tudo de bom
Navegar em seu mar pelo mundo
Quando havia tempo de calmaria
Nossas velas você recolhia
E lançava a âncora bem fundo

Ancorados em mar alto
Nada podia nos atrapalhar
Sentindo a brisa macia
No nosso corpo a tocar

Balançando nas suas águas
Às vezes conseguia até mergulhar
Catava as estrelas marinhas
E você me dava as do luar

Comíamos as estrelas da água
E com as do céu
Alimentávamos nosso sonhar

Mas o tempo de calmaria
Começou cedo a mudar
Soltamos as velas
Mas no meio da tempestade
Era impossível navegar

Nossa caravela água pôs se a fazer
E o mar do amor
Antes tão calmo e sereno
Ameaçava a nos arrastar
Em suas águas revoltas

E com todas as velas soltas
Ficamos perdidos nesse mar

Náufragos nesta praia deserta
Seremos presa certa
Pode crer
A não ser que desses destroços
Outra embarcação possamos fazer...
FLECHAS
Marlene Caminhoto Nassa

Quando disparas
Flechas em mim
Se for macia e quente
Leva-me à loucura

Se te sinto ausente
É uma flechada
Dada diferente

Uma palavra rude
É flecha que
Causa dor
Um carinho gostoso
Já é flecha de amor

Se queres me flechar
Cuidado com a flecha
Que for usar
Que dispares sempre
Somente flecha
Quente...

quinta-feira, 24 de março de 2011

LETRA T

Todo talento talvez turve torvelinhos tinhosos, travando trevas, temperando tempo, tenacidade, ternura, tornando tudo, talvez, tolerável...
Terei tempo? Trazer trevas, tirando tudo, também temperar travando trapos, trastes, tripas, tudo! Talvez...

BRINCANDO COM A LETRA V

VIVER VERSOS
Marlene Caminhoto Nassa

Vivo vomitando versos
Vertendo várias versões
Verificando vazios
Vaticinando ventanias,
Varrendo visões vilãs
Vibrando versos vãos?
Verei vários...
Vociferando verdades
Voláteis, vulneráveis
Violentas, virulentas
Valentias?
Vitórias vis virão
Venerando vulcões?
Vate versos!!!
ESPERAR A TORMENTA PASSAR
Marlene Caminhoto Nassa

Não posso tirar o ânimo da gaveta
Pois não há ânimo e nem gaveta...
Se acaso eu fosse jogadora
Entenderia as regras das apostas

Tiraria todo o peso de minhas costas
E seria eterna ganhadora
Mas é crua a realidade
E não podemos sequer mudar

Isso de ser caçado em vez de caçar
Destino é destino de verdade
Nem adianta querer enfrentar

A hora é de esperar
Esperar
Essa tormenta passar...
ENCONTRO NUM VERSO MEU
Marlene C.N.

Um encontro contigo quero marcar
Tem que ser num verso meu
Antes da poesia acabar...
Há muita tristeza e dor
Pois estou com o coração partido

E quando chegares ao meu verso,
Cuidado! Ele está muito dolorido!
Aproxima-te devagar
De todas as palavras tristes
Que fores achar
E que formam estrofes sem cor
Pois serão elas que darão guarida
Ao nosso encontro nestes versos

O tempo escasso nos domina
Façamos amor já, sobre essa rima
Preciso viver esta paixão tão linda
E transformar toda a minha dor

E quando a poesia já estiver finda
Seremos nós dois esse poema de amor!

domingo, 13 de março de 2011

NOVA GEOMETRIA
Marlene C.N.

Quando está comigo na cama
Você tem o dom da geometria
E no momento que me ama,
esgrima com maestria
Uma nova geometria
De triângulos, círculos, retângulos...
Tangenciando-nos na horizontal e na vertical e
Nos ângulos côncavo ou no convexo do nosso sexo
Sua boca ou seu sexo no meu sexo,
Ou seu sexo ou sua boca no anal
Nos planos dessa geometria descritiva
Sua linha sempre reta, ereta,
Quer projetar
No meu corpo, e rebater com minha rosácea
Uma perpendicular
No retângulo do nosso leito.
Nessa soma, divisão, multiplicação
Com nossas pernas trançadas e
Sua reta projetada dentro de mim
Seus braços, sua boca e sua mão,
Criando tangências, subtraindo carência,
Meus dois catetos acesos,
Aguardando a hipotenusa de sua boca,
Eleva o nosso desejo à enésima potência.
Os opostos pelo vértice unem-se
Num mesmo ponto de confluência
Seja na oval, na circunferência ou no que for,
O nosso tesão, sem nenhum pudor,
Demonstra teoremas de sexo e de amor!
NOVA GEOMETRIA
Marlene C.N.

Quando está comigo na cama
Você tem o dom da geometria
E no momento que me ama,
esgrima com maestria
Uma nova geometria
De triângulos, círculos, retângulos...
Tangenciando-nos na horizontal e na vertical e
Nos ângulos côncavo ou no convexo do nosso sexo
Sua boca ou seu sexo no meu sexo,
Ou seu sexo ou sua boca no anal
Nos planos dessa geometria descritiva
Sua linha sempre reta, ereta,
Quer projetar
No meu corpo, e rebater com minha rosácea
Uma perpendicular
No retângulo do nosso leito.
Nessa soma, divisão, multiplicação
Com nossas pernas trançadas e
Sua reta projetada dentro de mim
Seus braços, sua boca e sua mão,
Criando tangências, subtraindo carência,
Meus dois catetos acesos,
Aguardando a hipotenusa de sua boca,
Eleva o nosso desejo à enésima potência.
Os opostos pelo vértice unem-se
Num mesmo ponto de confluência
Seja na oval, na circunferência ou no que for,
O nosso tesão, sem nenhum pudor,
Demonstra teoremas de sexo e de amor!
DE MÃOS VAZIAS
Marlene Caminhoto Nassa

Lá fora a chuva do verão alaga a cidade
E leva de roldão sonhos vidas ilusão
Aqui dentro do meu quarto, sem piedade,
De mãos vazias eu me sinto em prisão

Prisão na minha própria dúvida
Prisão na minha própria reflexão
Enclausurada nos desencantos da vida
Angustiada por não ver solução

Se a noite parece sonho pra alguém
Para mim não parece não
A inacreditável realidade também
Não nos oferece conforto ou perdão

A chuva que chora na vidraça, sem cessar
Pode parecer que de mim se compadece
Ilusão! Olhos de vidro não podem chorar
E mão vazia nada oferece...

sábado, 12 de março de 2011

VERSOS VERMELHO CARMIM

Marlene C Nassa



Pintei meus versos

De vermelho carmim

Pois quem sabe

Dessa maneira

Você se acende de novo

Para mim



De um vermelho bem vivo

Que o faça reviver

A paixão que nos ligava

E onde eu era seu querer



Que saia dos meus versos

E entre em suas veias

E o envolva nessas teias

De fios vermelho carmim



Minhas palavras doces

Percorrerão sua circulação

E certamente tocarão

Bem fundo no seu coração



Esses versos coloridos

A espera de sua decisão

Farão menos doloridos

Os meus dias assim



Escrevo versos

Vermelho carmim

Para atar voce

Definitivamente a mim...
REENCANTAR O OLHAR
Marlene Caminhoto Nassa


TU QUERIAS REENCANTAR O TEU OLHAR
E PENSANDO EM PODER TE AJUDAR,
AOS TEUS OLHOS DE MENINO,
UM COLORIDO EU QUIS DAR.
MAS DENTRO DE MIM,
QUANDO AS CORES FUI BUSCAR,
TOMEI-ME DE ESPANTO
EU ESTAVA VAZIA!
SEM COR E SEM ENCANTO...
SÓ AÍ FUI DAR-ME CONTA
QUE AS CORES E A ALEGRIA,
EU COLOCAVA TODAS NA POESIA
E FICAVA DESSE MODO
CADA DIA MAIS VAZIA!
VIVER O AGORA
Marlene Caminhoto Nassa

Desejo viver o agora
Não quero pensar no amanhã

Uso sempre meu melhor perfume
E perfumo o caminho que passo
Contemplo da noite o negrume
Não me arrependo do que faço

Coloco diariamente na mesa
As melhores louças e cristais
Enxugo me com toalhas macias
Acendo velas em castiçais

Quero somente usar
O que de melhor possuir
Sem nunca me preocupar
Se amanhã poderei fluir

É preciso viver o agora
Mesmo quando não se quer
E se amanhã é alguém
Que por nós chora
Em um cemitério qualquer?

Se eu estou viva nesta hora
Não sei o depois do amanhã

Só levarei o que vi ouvi e senti
E o que estiver dentro de mim

Se nessa vida não gozar
Das coisas boas, enfim,
Serão os outros a aproveitar
Desses bens materiais em vez de mim
VERSOS NOTURNOS
Marlene Caminhoto Nassa

Poderiam
Ser soturnos
Esses versos
Noturnos
Que te
Quero enviar

Recolhidos
De um canto
Da mente
Tristes
Um tanto

Mas quero
Entretanto
Que me sejam
O acalanto
Nesta noite
Sem luar

É tudo o que
Posso
Por hora
Te dar

Versos noturnos
Que te ponho
A mandar
São pedaços
De um sonho
Que eu ainda
Tento sonhar...
A MARIPOSA E A LÂMPADA
Marlene Caminhoto Nassa

Tão tonta como uma mariposa
Que vai a busca de luz
E morre sem piedade
Da lâmpada que a seduz

Fui em busca do teu chamado
Sem me importar com o pecado
Ofuscada pela brilhante luz
Dessa paixão desmedida

Já sabia o que esperar
Dessa ilusão descabida
Eu me apoiei em ti
Mesmo sabendo seres vento

Não pude então reclamar
Quando o vento virou furacão
Varrendo e levando com ele
Meus sonhos e minha ilusão

quinta-feira, 10 de março de 2011

NA PÚRPURA EMOÇÃO
Marlene Caminhoto Nassa

Vejo cores na emoção
Resgato um azul cobalto
Da tristeza e da decepção
Alegro me num vibrante vermelho
Como o batom refletido no espelho

A paz é sempre apontada
Depois de uma grande chuvarada
No azulado da noite enluarada
Ou no branco do cabelo
Daquela pobre velha abandonada

Vou vivendo e colorindo emoções
Arrancando a cor roxa da dor
Apagando o negro que há na alma
E quando o amor vai surgindo
Transmuda-se célere a cor

Irradiando a beleza
Do amarelo a leveza
Vai iluminando sem pudor

E a paixão quando enfim aparece
De cor púrpura avassaladora
Ninguém nunca mais se esquece

E nesse caleidoscópio de cores
Vou vivendo as minhas cores
Nos prazeres e nas alegrias
Nas tristezas e nas dores!
O FOGO
Marlene C N

Esse fogo que nos consome,
Tem um nome:
_Tesão!
Os beijos, o chamego,
O toque de sua mão,
O desejo de ficar um no outro,
_É paixão!

A ternura que nos envolve,
Depois que explode dentro de mim,
Traduz a certeza de um amor,
Que o tempo não pôs um fim!

E a presença ainda desse fogo,
Que incendeia e nos aquece,
E nos conduz nesse jogo
Que ninguém sabe sequer o fim,
Indica que ficaremos para sempre
Eu em você e você em mim!
BRINDE...
CHAMPANHE
Marlene C N

As ondas acariciam nossas coxas,
Você lambe meus seios com tesão,
E eu, com as pernas já frouxas,
Vou encaixando teu falo com as mãos,
Movimentando minha virilha até a penetração...

E é como um turbilhão de línguas,
De bocas, de águas e de ar...
De pés entrelaçados...
De sabor do sal, em movimentos ritmados
Dos nossos corpos e do mar...

E quando ele arrebenta na rocha,
Em uma explosão de espuma sem fim,
Você, como num brinde louco
Estoura seu champanhe dentro de mim!
Uma Profana Oração
Uma Profana Oração

Marlene C. N.

Seus braços são fortes como galhos hirtos no ar,
Como uma doce cruz a me chamar!
E num louquíssimo abraço, hei de neles me crucificar!
Eu sou um navio errante,
E você, um porto lindo de se ancorar!
Desejo misturar nossos fluidos e suores,
Nossas fantasias mais secretas, sem temores.
Na nossa pele, no nosso olhar e no nosso modo de amar,
Levaremos para sempre a nossa presença,
Como uma sombra a pairar...
Se vamos ficar juntos? Para sempre?
Pouco importa... Nada irá mudar...
Quebremos regras... Convenção...
Somos ousados, abusados!
Será nosso caminho? Nossa solução?
Nossa tábua de salvação?
Ou de nossa completa perdição?
Crucifiquemo-nos um no outro, agora,
Na cruz dos nossos próprios braços.
Vamos infinitas vezes fazer amor,
No templo profano e proibido desses laços.
E transformemos nossos sexos,
Em um altar de adoração sensual
Esqueçamos de que não posso ser sua
Nem você ser meu, além do virtual!
E assim crucificados em abraços,
É a nossa carne que rezará em devoção
Esta insana, erótica e profana oração!
ORAL
Marlene C.N.

Entreabro as minhas pernas,
À espera de tuas mãos,
Que prontas avançam
Tateando minhas coxas devagarinho,
Sabendo de cor o caminho...

Chupo meu dedo indicador,
E com ele molhado,
Aguçando mais teu sentido
Pelo decote do vestido,
Encontro o mamilo intumescido

Busco tua boca,
Que também procura a minha,
Enquanto tuas mãos vão subindo,
Levantando meu vestido,
Afastando de leve a calcinha
Arranca de mim um gemido.

Quero mais e alvoroçada
Abro tua roupa, alucinada,
E te sinto latejando em minha mão
Enquanto teu dedo me penetra,

Abocanho-te com paixão.
E num ritmo cadenciado,
Da minha boca e da tua mão,
Nossos corpos se contorcem
Até o momento da explosão!
PERDI ME

Marlene Caminhoto Nassa



Emaranhei-me no meio

Dos meus sentimentos

E meus sonhos loucos

Foram todos

Aos poucos

Atrás de teus devaneios



E nesses volteios

Não encontrei meios

De me encontrar

Novamente inteira



Nessa doideira

De querer só sonhar

Jamais acharei a porteira

Que permitiu meu sonho passar



Como sou feita

Só de sonhos

E se não os encontrar

Perdida também

Para sempre

Hei de estar
A CRUZ VELHA
Marlene Caminhoto Nassa



Não há quase nada

Que perturbe a paz

Aqui nesta cruz

Ao lado da estrada



Flores simples

Foram plantadas

Num canteiro

Que só tem a natureza

Para molhar



Algum viajante crente

Ainda pára e vem orar

Reza pela alma do ausente

Que nem mais placa

Possui para indicar



Um gorjeio triste

Algum passarinho

Vem cantar na cruz



Flores simples resistentes

Criadas sob muita luz

Não têm mel para ofertar

Então as borboletas

Afastaram se do lugar



Lugar triste e ermo

Sem sombra no dia quente

Para talvez um enfermo

Sentar se para repousar



Tenebroso na lua cheia

Dizem que há assombração

E todos então se afastam

Temendo perturbação
POESIA QUE FAZ CALAR
Marlene Caminhoto Nassa

Sou sobriedade e certeza
Teço o meu destino sem freio
Sinto me tão poesia, sem rodeio
Verso-me em crível destreza

Eu verso com quem me completa
O coração pulsa em câmera lenta
E quando a paz, então, se afugenta
A poesia se insere tão certa

E quando ela surge certeira, rabugenta,
Impondo se sem rodeio e sem freio
Fico amarrada, tolhida e sem meio

E só ela permanece soberana a reinar
Não admite qualquer entremeio
E para não fazer feio ponho me a calar
A MARIPOSA E A LÂMPADA
Marlene C N

Tão tonta como uma mariposa
Que vai a busca de luz
E morre sem piedade
Da lâmpada que a seduz

Fui em busca do teu chamado
Sem me importar com o pecado
Ofuscada pela brilhante luz
Dessa paixão desmedida

Já sabia o que esperar
Dessa ilusão descabida
Eu me apoiei em ti
Mesmo sabendo seres vento

Não pude então reclamar
Quando o vento virou furacão
Varrendo e levando com ele
Meus sonhos e minha ilusão
VERSOS VERMELHO CARMIM

Marlene C Nassa



Pintei meus versos

De vermelho carmim

Pois quem sabe

Dessa maneira

Você se acende de novo

Para mim



De um vermelho bem vivo

Que o faça reviver

A paixão que nos ligava

E onde eu era seu querer



Que saia dos meus versos

E entre em suas veias

E o envolva nessas teias

De fios vermelho carmim



Minhas palavras doces

Percorrerão sua circulação

E certamente tocarão

Bem fundo no seu coração



Esses versos coloridos

A espera de sua decisão

Farão menos doloridos

Os meus dias assim



Escrevo versos

Vermelho carmim

Para atar voce

Definitivamente a mim...
CARTAS MARCADAS

Marlene Caminhoto Nassa



Na escuridão do meu dia

Seguro fiapo de luz

Que possa

Nessa grande fossa

De alguma maneira

Me iluminar.



Só possuo a cruz do destino

Para nela me crucificar

E ela é tão fria

O quanto minha vida

É vazia



Nem mesmo o calor

Tão tênue desse verso

Fará algum reverso

Na nossa separação



Nas cartas marcadas

Desse destino tão perverso

Não haverá mais verso

Nosso jogo chegou ao fim



Eu sem você

E você sem mim...
COISAS DO AR
Marlene C Nassa



Dobras de pensamento

Que se embaralham no ar

E são espalhadas ao vento



Levam ternuras

Loucuras

Mas também

Desilusão e dores

Em diversos tons de cores



Que saem pela minha mente

E como louca semente

Tentam se segurar

Em algum terreno

Macio



Á beira de um doce rio

Seguindo seu curso frio

No mar vão desaguar

E são diluídas no mar



O ar não consegue reter

Todos os meus pedaços

E muita coisa irá se perder

Nos espaços

Da nossa história



Assim como

Dentro da minha

Frágil memória
QUARTA FEIRA DE CINZAS

Marlene Caminhoto Nassa



Hoje é dia de cinzas

Cinzas dos meus amores

Que trouxe consigo

As dores

E me retirou as cores



Deixando o cinza na alma

Vampirizando todo o carmim

Que havia em mim



Nesta triste encruzilhada

Com a fantasia rasgada

E sem placa de orientação



Só o cinza me rodeia

Neste cinzento alvorecer

E me envolve numa teia

Que me confunde o querer



Aos poucos em pó

Vou me tornando

E o vento espalha sem dó



Cumpro do destino a triste sina

Que em cinza nos transformou



E na quarta feira de cinzas

Na encruzilhada dessa esquina

Nossas cinzas espalhou...
REENCANTAR O OLHAR
Marlene Caminhoto Nassa


TU QUERIAS REENCANTAR O TEU OLHAR
E PENSANDO EM PODER TE AJUDAR,
AOS TEUS OLHOS DE MENINO,
UM COLORIDO EU QUIS DAR.
MAS DENTRO DE MIM,
QUANDO AS CORES FUI BUSCAR,
TOMEI-ME DE ESPANTO
EU ESTAVA VAZIA!
SEM COR E SEM ENCANTO...
SÓ AÍ FUI DAR-ME CONTA
QUE AS CORES E A ALEGRIA,
EU COLOCAVA TODAS NA POESIA
E FICAVA DESSE MODO
CADA DIA MAIS VAZIA!
Uma Profana Oração

Marlene Caminhoto Nassa

Seus braços são fortes como galhos hirtos no ar,
Como uma doce cruz a me chamar!
E num louquíssimo abraço, hei de neles me crucificar!
Eu sou um navio errante,
E você, um porto lindo de se ancorar!
Desejo misturar nossos fluidos e suores,
Nossas fantasias mais secretas, sem temores.
Na nossa pele, no nosso olhar e no nosso modo de amar,
Levaremos para sempre a nossa presença,
Como uma sombra a pairar...
Se vamos ficar juntos? Para sempre?
Pouco importa... Nada irá mudar...
Quebremos regras... Convenção...
Somos ousados, abusados!
Será nosso caminho? Nossa solução?
Nossa tábua de salvação?
Ou de nossa completa perdição?
Crucifiquemo-nos um no outro, agora,
Na cruz dos nossos próprios braços.
Vamos infinitas vezes fazer amor,
No templo profano e proibido desses laços.
E transformemos nossos sexos,
Em um altar de adoração sensual
Esqueçamos de que não posso ser sua
Nem você ser meu, além do virtual!
E assim crucificados em abraços,
É a nossa carne que rezará em devoção
Esta insana, erótica e profana oração!
ORAÇÃO
Marlene C. N.

Explorando os meus caminhos com tua boca
Quero-te ajoelhado à frente de mim!
E num sinuoso percurso me deixes louca
Com essa tua boca
Rezando essa espécie de oração em mim!
MAR DO AMOR
Marlene Caminhoto Nassa

Foi tudo de bom
Navegar em seu mar pelo mundo
Quando havia tempo de calmaria
Nossas velas você recolhia
E lançava a âncora bem fundo

Ancorados em mar alto
Nada podia nos atrapalhar
Sentindo a brisa macia
No nosso corpo a tocar

Balançando nas suas águas
Às vezes conseguia até mergulhar
Catava as estrelas marinhas
E você me dava as do luar

Comíamos as estrelas da água
E com as do céu
Alimentávamos nosso sonhar

Mas o tempo de calmaria
Começou cedo a mudar
Soltamos as velas
Mas no meio da tempestade
Era impossível navegar

Nossa caravela água pôs se a fazer
E o mar do amor
Antes tão calmo e sereno
Ameaçava a nos arrastar
Em suas águas revoltas

E com todas as velas soltas
Ficamos perdidos nesse mar

Náufragos nesta praia deserta
Seremos presa certa
Pode crer
A não ser que desses destroços
Outra embarcação possamos fazer..
CARTAS MARCADAS
Marlene C N

Na escuridão do meu dia
Seguro fiapo de luz
Que possa
Nessa grande fossa
De alguma maneira
Me iluminar.

Só possuo a cruz do destino
Para nela me crucificar
E ela é tão fria
O quanto minha vida
É vazia

Nem mesmo o calor
Tão tênue desse verso
Fará algum reverso
Na nossa separação

Nas cartas marcadas
Desse destino tão perverso
Não haverá mais verso
Nosso jogo chegou ao fim

Eu sem você
E você sem mim...
QUARTA FEIRA DE CINZAS
Marlene Caminhoto Nassa

Hoje é dia de cinzas
Cinzas dos meus amores
Que trouxe consigo
As dores
E me retirou as cores

Deixando o cinza na alma
Vampirizando todo o carmim
Que havia em mim

Nesta triste encruzilhada
Com a fantasia rasgada
E sem placa de orientação

Só o cinza me rodeia
Neste cinzento alvorecer
E me envolve numa teia
Que me confunde o querer

Aos poucos em pó
Vou me tornando
E o vento espalha sem dó

Cumpro do destino a triste sina
Que em cinza nos transformou

E na quarta feira de cinzas
Na encruzilhada dessa esquina
Nossas cinzas espalhou...