quarta-feira, 21 de março de 2012

NAVEGAR A POESIA
Marlene Caminhoto Nassa

Maturo letras na solidão
Deito com elas ao lado meu
Estão frias e desorientadas
Infiltam se sob o cobertor
Como estrofes separadas
A procura de algum calor
Perdidas na fria escuridão.

As sílabas juntas e aquecidas
Formando versos de paixão
Como a ponta de um pavio
De repente deixam  a cama quente
Explodindo esse estopim
Dentro de mim

E qual comandante de navio
Incendiada e contente
Nesse mar de inspiração
A poesia singra valente
Navegando minha emoção!

ALPHA COM FOME
Marlene Caminhoto Nassa

Como fêmea alpha que sou
necessito minha fome aplacar
escolho a presa que  comer eu vou

Apalpo a textura, sinto o cheiro no ar...
Com os  sentidos aguçando estou
certificando me que não há nada a atrapalhar
antevejo lhe o sabor
 em minha boca a porejar...
Com suavidade perfuro a pele sem dor
até seu miolo ir encontrando...
Trabalhando com a mão trago a presa
 até minha boca
E, ansiosa, sôfrega, tremulando,  tesa
eu como a polpa dessa fruta feito louca!

FELINO FOTO

PROFANO OU SAGRADO
Marlene Caminhoto Nassa

Habitam em harmonia
dentro de mim,
lado a lado,
o profano e o sagrado.
Mas só um de cada vez
eu agrado.
Resta saber hoje
qual é esse lado...

segunda-feira, 19 de março de 2012

GRANITO
Marlene Caminhoto Nassa

Como resto grudado na barranca de um rio
sinto me agora um arremedo de poesia
restante da torrente das águas turbulentas
das tuas palavras de incompreensão e de frio

Arrastou nessa corredeira toda minha alegria
E deixou na minha alma a sensação do vazio
E o significado de ter sido só objeto 
de uso consentido
descartável 
poluído
mas não menos 
infinitamente doído...

A doçura de antes, 
Conseguido teu intento,
tirou me de vez
o alento
e o encanto
transmudou me o canto

E hoje 
meu grito
é só de granito...

domingo, 18 de março de 2012

ABRAÇO AMIGO
Marlene Caminhoto Nassa

Abriga e acolha me sob teu abraço,
Meu querido amigo,
Tal qual a ave que proteje  a cria
Minha alma está machucada e fria
Necessito agora do teu calor que alivia

Desejo somente o teu abraço amigo
E que nada digas além de ficar comigo
Protegida, acolhida, não sentirei a ferida
da incapacidade de esse quadro mudar
e de nada poder fazer além de rezar...



sábado, 17 de março de 2012

ENCONTRO DE GERAÇÕES
Marlene Caminhoto Nassa

O velho segura na mão carcomida
a ternura e a leveza infinita do novo.
Sabe que esse novo, que explode em vida,
tomará, brevemente, o lugar de sua decrepitude...
A vida é sucessão inexorável de morte e de vida.
O velho, sofrido, precisa do novo, em solicitude
para  lhe curar o corpo cansado e a alma ferida...

Hoje, desanimada e ferida, resta me espiar,
sem forças para contemplar, só imaginar
esse encontro mais lindo da vida que chega
com a que se esvai sem que eu veja...

sexta-feira, 16 de março de 2012

ATRÁS DA PORTA
Marlene Caminhoto Nassa

Celebrarás comigo a vida sem morte
Nós nos encontramos e isso é sorte!

O sol invadirá nossa vida e coração
Comeremos um pão abençoado no amor
De mãos dadas e em comunhão
Oferecerendo um ao outro futuro sem dor

O mundo que vemos agora de olho aberto
tem o tamanho de nosso sonho, por certo,
Infinitamente maior do que um grão que encerra
Toda a composição química da terra...

Nessa casa o chão será canção de paz,
jamais de tristeza ou de guerra...
O passado aqui seu ciclo encerra...

Não importam o som da goteira ou
Os furos do telhado agora sem eira
Se teremos  beira e até tribeira
Nesse mundo atrás de nossa porta...

Importa que aqui dentro, seja o que for
só caberá nosso grande e infinito amor!

quinta-feira, 15 de março de 2012

OLHOS DO TEU CORAÇÃO
Marlene Caminhoto Nassa

Olhes-me com o olhar
Só do teu coração
Entendas-me
Com a compreensão de poeta
Tateies por meus sentimentos
Toda a dimensão do amor meu
Lendo só no braile da tua emoção
Os por quês desta minha solidão
Explores-me nesse teu ato
Minucioso, perfeito e exato,
Enviando de teu coração à razão
E encontrarás escondida nos espaços,
Camuflada entre outros traços
Que não são meus
A menina que sou de fato
E que agora se expõe aos olhos teus...

quarta-feira, 14 de março de 2012

MEU NORTE
Marlene Caminhoto Nassa

Vaga o pássaro mortalmente ferido
No mar, sobre a onda forte...
Vaga a onda e sem encontrar vaga,
Arrebenta na rocha que lhe fez barreira.

Vago eu no que divago da chaga
desse pássaro ferido e em cegueira,
que sem sorte
encontrou a morte
pensando encontrar seu norte...

terça-feira, 13 de março de 2012

MUDANÇA
Marlene Caminhoto Nassa

Silenciosamente e em solidão,
surdo e mudo  o silêncio
me muda
em cio silente de transformação.
Vida e morte se amam enfim
para criar o ser que irá nascer
dessa germinação que acontece em mim.
Reviravolta que me volta
 das entranhas
finalmente se solta
de dentro de mim.
Eu colho e recolho nesse parto,
dolorida,
o novo eu,
recém nascida...
E  muda, nessa parida
mudo ao fim...

segunda-feira, 12 de março de 2012

CONTINUAR A ENCANTAR
Marlene Caminhoto Nassa

A tua ausência
tem sido para mim
a  mais triste presença,
a mais sofrida sentença...
E mesmo nessa descrença
que nutres sobre a verdade
que não queres acreditar
e  minha perseverança
em te provar a lealdade
sobre a palavra empenhada
não me deixa ficar calada
e necessito gritar:
Eu te quero de qualquer
maneira
só não me deixes aqui
nesta beira
tentando me equilibrar
nem deixando o pranto rolar
Amanses um pouco
teu coração
Não me digas mais
não!
Ame me com a ternura
do primeiro olhar
a paixão do primeiro sexo
aperte-me
num amplexo
extremanente solar
Olhe me fundo
nos olhos
Nunca me faças
mais chorar
Beijes a palma de minha mão
e seja o que for
por favor
continues a me encantar!
ALCANCE
Marlene Caminhoto Nassa

Uma parte de mim
ainda sonha
Mas a outra parte
Não

Uma parte de mim
ainda tem esperança
Mas a outra
tem solidão

Uma parte dos meus olhos
alcança o infinito
Mas a outra parte
Só alcança o chão

Uma parte dos desejos
Alcanço com as mãos
A outra parte
Não

Uma parte de mim é alegria
é futuro
Alcança a utopia
A outra parte
Não

Uma parte de mim
não mais me alcança
E a outra parte
Também
Não!

sexta-feira, 9 de março de 2012

COMPOSITORES
Marlene Caminhoto Nassa

Em seu colo, nua, sentada,
meu corpo se amolda feito um violão
à espera de ser tocado...

Enquanto seu dedo me dedilha
transformando me em instrumento seu
esse corpo tocado partilha
melodias em descompasso meu

Compositores de carne e de amor
a fazer concertos por onde for... 

sábado, 3 de março de 2012

ROUPA
Marlene Caminhoto Nassa

Quero que fiques nu
E vas te vestindo de mim
Bem devagarinho...