quarta-feira, 17 de outubro de 2012


CARTAS MARCADAS

Marlene Caminhoto Nassa

 

Na escuridão do meu dia

Seguro fiapo de luz

Que possa

Nessa grande fossa

De alguma maneira

Me iluminar.

 

Só possuo a cruz do destino

Para nela me crucificar

E ela é tão fria

O quanto minha vida

É vazia

 

Nem mesmo o calor

Tão tênue desse verso

Fará algum reverso

Na nossa separação

 

Nas cartas marcadas

Desse destino tão perverso

Não haverá mais verso

Nosso jogo chegou ao fim

 

Eu sem você

E você sem mim...

CARNAVAL COLORIDO

Marlene Caminhoto Nassa

 

Da paleta de cores da poesia

Pinto o meu rosto e a fantasia

E das cintilações das estrelas

As faíscas eu vou buscar e

Inflamo de chamas meu olhar

 

Quero estar colorida a brilhar

Espalhando pelo salão as cores

E transformar com meu tocar

As faces pálidas das dores

 

Aproveite esses três dias de viver colorido

E venha urgente me amar

Sem fim

Antes de entrarmos em combustão

Pois nossas cores logo se esvairão e

Na quarta feira seremos

Um punhado de cinza enfim

domingo, 7 de outubro de 2012

CASO VERÍDICO NO JAPÃO


CASO VERÍDICO NO JAPÃO

Na ocasião eu fazia um trabalho para qualificação no mestrado em Artes na UNESP e minha dissertação era sobre Escola de Samba, que considero a Ópera do Asfalto. Comparava os ritmos das Escolas de São Paulo, que são acelerados, com as do Rio de Janeiro, que são mais lentos. Frequentava a Escola de Samba Rosas de Ouro, onde colhia elementos para minhas pesquisas. Ela foi a vencedora do carnaval paulista naquele ano e foi convidada a se apresentar no Japão. O presidente, saudoso, Eduardo Basílio,  convidou-me a integrar os componentes que iriam como convidados a se apresentar numa Festa das Nações em Nagoya, no Japão.

Sobrou me ir fantasiada de baiana, com muitos colares, desses comprados na Rua 25 de março, vistosos, baratinhos, de plástico ou de vidro.

Fizemos inúmeras apresentações e uma apresentação especial ao rei do Japão, com a presença de todas as autoridades locais, uma pompa, com uma plateia de mais de 5 mil pessoas! E cada japonês possui no mínimo duas câmeras fotográficas cada um... Imaginem...

Numa das voltas do desfile, ao passar em frente da comitiva real, o governador da província se levantou e veio até a mim e tocou num dos meus colares que brilhavam, quebrando o protocolo. Imediatamente fiquei ofuscada com tanto brilho de flashes, que espocavam de todo lado. Tirei um dos colares e coloquei no pescoço do governador. Ouviu se um OOOOHHHH na plateia. Foi tudo filmado e fotografado e manchete nos jornais do dia seguinte. Ele permaneceu com o colar até o final da nossa apresentação, que era a mais importante e esperada do festival, quando as autoridades vieram nos cumprimentar pessoalmente no final do espetáculo.

Havia um intérprete ao lado do governador, que veio entregar-me o colar e agradecer. Respondi que era um presente meu a ele e que não precisava me devolver. O intérprete insistia comigo e eu com ele junto ao governador. Ele então beijou-me a mão, agradeceu e se foi.

Na manhã seguinte recebi, no hotel, um lindo colar de pérolas marinhas, iguais, lindo, com um cartão do governador e uma mensagem do rei a mim... Tenho- os até hoje...

Aí me disseram: __Você deveria ter dado era um monte desses seus colares, Marlene!